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| FOTO: PROF.ME. MAURO BECHMAN. AUTOR: CUCUNACA, 2021. |
Por: Mauro Bechman*
As tentativas do Estado brasileiro durante a Ditadura Militar (1964-1985) de integração da Amazônia ao todo da economia nacional, a partir dos grandes projetos de desenvolvimento, um velho sonho da classe dominante brasileira situada no centro-sul do Brasil, passou para o registro dos maiores impactos socioambientais do mundo.
Da construção de Balbina ao abandono da Transamazônica, temos a hecatombe de um modelo de desenvolvimento regional vindo de "fora" para dentro da região.
Desde os anos 1980 os geógrafos vem mostrando que em termos práticos, a Amazônia necessita de um modelo de desenvolvimento sustentável e socialmente justo.
Neste sentido, o asfaltamento da BR 319 que vingou pouco tempo devido os laços e redes mais atrativas integrando Porto Velho ao Centro-Oeste brasileiro (na divisão administrativa do IBGE) desinteressou as classes dominantes do Amazonas e de Rondônia. Então a rodovia entrou para a lista de mais um fracasso na empreita de conquista da Amazônia tendo seu abandono sido cartografado como uma ferida nas terras firmes do sul Amazonense.
O interesse sobre a rodovia volta a ganhar interesse quando da consolidação de Manaus como Metrópole da Amazônia a partir de 1989, em momentos de pura timidez e agora nos últimos 10 anos mais intensos e acordados entre as classes dominantes manauaras, interessadas no aumento de vendas de seus produtos e na possibilidade de integração e partilha da hegemonia manauara nos anos de gestão de um governo federal voltado ao fim das desigualdades regionais.
A classe dominante portovelhense, interessada no potencial consumidor de Manaus, endinheirada como a 6a economia do Brasil, faz com que várias iniciativas fossem feitas para a retomada da rodovia.
Aí surgiu a partir dos debates sobre a Copa do Mundo de 2014 cujos embates foram mediados pela autorização do governo federal para a retomada da rodovia, estando este, entre a agrícolas que dominam o sul amazonense com o apoio velado da indústria automobilística e a classe dominante comercial de Manaus rivalizando com as posições de ambientalistas, organizações não-governamentais e pesquisadores do INPA e da centenária Universidade do Amazonas (UFAM) que propuseram a construção de um trem que ligasse a capital rondoniense á capital do Amazonas cujos impactos socioambientais seriam bem menores que a construção de uma rodovia que traria inevitavelmente a especulação imobiliária e o avanço desmedido sobre a floresta amazônica a partir da agropecuária extensiva.
Após uma breve trégua, com a Pandemia do Sars covid-19 sobre o Amazonas desde 2019, as classes dominantes de Manaus e Porto Velho voltam a reivindicar a retomada da estrada, associando largamente na mídia nacional e local, a falta de oxigênio para os enfermos por covid-19 em Manaus à falta de asfaltamento da BR 319. E a mídia corporativa de Manaus de famílias oligárquicas difunde a associação no mínimo questionável entre causa e efeito.
Ora, para se chegar a condição de metrópole, Manaus não precisou da rodovia asfaltada, nem da transamazônica e nem da Manaus-Porto Velho. Por quê agora, seria tão essencial?
Com a questão socioambiental em vivo debate mundial por conta da Pandemia do Sars Covid-19, torna-se preocupante, o avanço urbano sobre grandes extensões territoriais no momento que aprofundam as pesquisas sobre a origem, mutabilidade e resistência da pandiversidade de bactérias, fungos, vírus e outros microorganismos presentes em ambientes tropicais e equatoriais.
Outra questão a ser ponderada é o caos urbano em Manaus onde a qualquer momento as vias parecem paralisar a cidade com sua classe ascendente se esbaldando na compra de automóveis.
Obras de infraestrutura são construídas como soluções já caducas diante de um consumo compulsivo da classes sociais ascendentes em Manaus de automóveis tendo assim uma das frotas mais novas do Brasil.
A despeito disso, é necessário que retomemos aos planos diretores e de gestão socioambiental das cidades, sem isso, não haverá como desenvolver as cidades da Amazônia sem com ela e seus atores dialogar.
E na insistência em posições que visem a "Passagem da boiada" a Amazônia tem cobrado seus preços: Balbina, Igarapés urbanos transformados em esgotos a céu aberto, Serra Pelada e o outros.
Talvez as classes dominantes das duas cidades amazônicas pudessem recorrer a Djalma Batista que ao pensar a Amazônia, referiu-se a ela como uma Esfinge: "Decifra-me ou Devoro-te".
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*Licenciado em Geografia e Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia pela Universidade Centenária do Amazonas.UFAM.

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