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| FOTO: IGARAPÉ DO PASSARINHO. AUTOR: CUCUNACA, 2021. |
Por: Mauro Bechman*
Na cidade frenética, as cores em química artificial nos enganam e nos forjam um amor pelo belo que sem alma não é belo.
No céu em profusão criativa, ora cumulonimbus, ora nimbostratus, ora cirrus, encobrem o firmamento em azul atmosférico, a floresta sorri, a explosão da vida na paisagem desnaturalizada salta aos olhos dos que enxergam além das aparências.
A temperatura primaveril é em qualquer latitude, um convite ao amor e no igarapé do Passarinho não seria essa lei suprimida ou sequer renegada.
No caminho do Índio, as águas correntes e relativamente cristalinas, autossanitizadas pelo Criador, juntam-se as folhas verdes que despontam e disputam vaga até no tronco das árvores luxuriosamente copadas, condomínios das aves urbanas realojadas pelo bípede antropóide. E, seus sons, misturam-se às folhagens em profusão enquanto camaleões passeiam e olham assustados o que se fez de Gaia.
Nestes últimos dias de Janeiro cinza, em meio a destroços da Cidade dos Tiranos em seu ritual anacrônico de celebrar a mortalha enquanto amordaça as Anastácias e persegue Jonas, o Igarapé do Passarinho canta com suas vozes, seus aromas em chuva de flores, folhas perfumadas e com suas cores multicores, seus verdes em infinitos matizes, suas flores aberrantemente coloridas, vívidas, em eterna beleza bailando sobre a terra fértil das suas margens vandalizadas pelo dominador.
E eu, caminho e tento sorrir, mas me falta ar. Meus passos e meus poros não sincronizam e me resta apenas apreciar com os olhos as cores da zona norte neste fim de Janeiro, ainda à espera de um novo Janeiro que me permita respirar e quem sabe sorrir verdadeiramente outra vez.
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* Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia pela Universidade Centenária do Amazonas. UFAM.

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