A PANDEMIA, O AMAZONAS E O FORTALECIMENTO DAS IDEOLOGIAS GEOGRÁFICAS

 

FOTO: PROF.ME. MAURO BECHMAN.
AUTOR: CUCUNACA, 2021.

Por: Mauro Bechman*


Desde sempre, as classes sociais dominante s organizadas na forma de Estados nacionais, esforçam-se para desenvolver uma visão sobre o que "eu" sou e o que o "outro" é.  Sob este aspecto, elas sabiamente intensificam sua propaganda ideológica gerando aquilo que os geógrafos chamam de "Geografismos" ou Ideologias Geográficas.

Notadamente, as classes dominantes de um determinado espaço geográfico busca afinar o discurso no sentido de oferecer uma identidade ao povo para com esta adesão consolidar sua dominação sobre territórios e pessoas.

Para justificação e desvio da atenção para ausência de saúde pública nos Estados Unidos da América, o ex-presidente republicano atribuiu ao crescimento da contaminação mundial a China, denominando o Novo Coronavírus de "Vírus Chinês". Postura essa, divulgada largamente nas mídias sejam corporativas, sejam redes sociais privadas, sendo acompanhada e multiplicada pelos seguidores do então presidente e por países subalternos e periferizados como o Brasil.

Sob este aspecto, duas ponderações são importantes: a primeira, para evitar "pechas" ou depreciação da imagem de lugares e pessoas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica as doenças por códigos e datas, e não por nomes dos lugares; a segunda ponderação reside no fato de que a falência do sistema de saúde estadunidense em seu modelo neoliberal deveria ser escondido. Sobre este aspecto, nada melhor que "inventar um inimigo" externo para não perder votos nas eleições. 

Estamos assim, diante de uma ideologia geográfica chamada "Xenofobia" ou aversão ao estrangeiro. E isto, tem um objetivo importante, a guerra econômica entre as duas superpotências mundiais.

Com o início da Segunda Onda de contaminação ocorrendo no Estado do Amazonas, as ideologias geográficas voltaram ao centro do debate.

A explicação amplamente ventilada nos meios e redes de comunicação era da Nova variante do Sars Covid-19, vulgarizada como " Variante Amazonense" ou "Variante Manauara". E, a limitação a circulação de embarcações e pessoas da capital amazonense ao oeste do Pará parece ignorar que esta região depende muito da economia manauara e de seus serviços.

E, o governo do Pará em uma medida sem um prévio contato com o governo do Amazonas, gera ao menos um estranhamento ao não compreender as ligações da região do Tapajós com Manaus. 

Estados, departamentos ou províncias possuem limites e não fronteiras, pois não são estados nacionais. Também ignorou-se a quantidade de pessoas do oeste paraense que utilizam há décadas os serviços de educação, em todos os níveis de ensino até a rede médico-hospitalar do Amazonas.

Embora, este seja um fato menor, ou mais um, no meio desta seara de analfabetismo geográfico da imprensa corporativa brasileira que se encarregou de popularizar estas distorções em seus telejornais e programas que por seu alcance nacional desvelou a "Colonização Inconclusa" pois fez os nacionais perceberem que não se percebem como nacionais, ou seja, brasileiros. 

Para a maior parte dos nacionais, a pandemia ocorre lá no distante, isolado e pobre Amazonas...talvez isso, não tenha a ver com o Brasil. E não faltou a volta dos mantras do tempo da Ditadura Militar (1964-1985) "O Amazonas é Brasil"  um desespero por parte de alguns amazonenses diante do cenário adverso. E o preço pelo analfabetismo geográfico do brasileiro poderá gerar a longo prazo mais uma reação de desprezo e preconceito contra os habitantes da 6a economia do Brasil.

Barrismo, Regionalismo, Nacionalismo, Opobrofobia, Segregacionismo, Xenofobia são todos deformações das leituras da Geografia em que as classes dominantes, sejam locais, regionais e nacionais não se intimidam em usar para definir o lugar delas no espaço geográfico e das regiões deprimidas, o seu limite entre barbárie e civilização.

Daí estarmos vivendo um período de fortalecimento das ideologias geográficas em vez de usarmos este momento para a consolidação da brasilidade. Por hora, segue-se a luta do povo amazonense, a de sempre. Pela vida.

Tem mais coisa...mas até aqui é isso.

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* Licenciado em Geografia pela Universidade Centenária Federal do Amazonas. UFAM. Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia pela mesma universidade. Professor de Ensino Médio e Superior nas redes Pública e Privada.

2 comentários:

  1. Verdade. Há realidades que só a Geografia pode ajudar a elucidar, realmente esse conhecimento passado como enfadonho ao povo é desmistificar dor. Obrigado pela presença. Seja bem-vinda!

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