BAREZÃO DA DEPRECIAÇÃO

FOTO: ARENA DA AMAZÔNIA VIVALDO LIMA. MANAUS AM. AUTOR: M. BECKHMAN, 2014.


O futebol amazonense atravessa uma fase difícil, desde a década de 1990 quando o São Raimundo Esporte Clube estava em plena ascendência no cenário nacional, chegando a disputar a 2ª divisão do futebol brasileiro. Situação esta proporcionada por alguns fatores como apoio governamental e empresarial local e, ainda o entusiasmo de setores da mídia comercial que á época, fizeram o futebol amazonense pautar as primeiras páginas dos jornais escritos.

Atualmente o futebol amazonense mostrou-se com o “espírito de Ajuricaba” lutando de forma heróica contra uma massificação da campanha para o fim do futebol no maior estado do Brasil. Nesta cruzada, aliaram-se os meios de comunicação de massa, com a TV e a imprensa escrita e virtual.

Inicialmente depreciando e ou publicando matérias jornalísticas e pseudo-jornalísticas  depreciativas sobre os clubes locais e regionais, matérias estas, muito carentes de conhecimento a respeito dos clubes. 

A mudança de gerações de jornalistas que não viram os clubes locais lotarem estádios. Assim, esta geração de jovens jornalistas, cresce sem essa memória e formaram-se, fundamentando seu olhar a partir de uma visão globalizada de futebol identificando-se muito mais com ícones e clubes extra-regionais que com os clubes locais, mesmo sendo, os clubes amazonenses até mais antigos neste esporte que os clubes nacionais. Desse modo, findaram por fechar os olhos aos clubes locais. Assim, nasce uma imprensa que torce por Barcelona, Real Madrid, Flamengo, menos Nacional, Fast Clube, Rio Negro...o que chamamos de imprensa colonizada, prontamente disposta a apenas reproduzir o que a imprensa nacional e, agora muito mais, as vontades que imprensa internacional lhes impõe. 

Apagar a memória, edificada por gerações faz parte deste momento. E, para isso, muito mais complexo e mais sofisticado é a tática de folclorizar e ou depreciar o futebol do Amazonas. Os talentosos técnicos e os grandes duelos futebolísticos são relativizados pela grande mídia comercial local e os grandes atletas – que poderiam estar em qualquer grande clube do mundo – são folclorizados pela imprensa colonizada. Não devemos esquecer que o Amazonas é um celeiro de craques que brilham em clubes do sudeste do País e também que alguns clubes globais vem caçar talentos nas escolinhas-empresas-de-futebol de Manaus.

A folclorização recebe um importante aliado nesse processo  formação das identidades locais. Pois o jovem talento não quer  mais jogar no Nacional, na arena, ele quer ser um jogador do Barcelona, de um Vasco da Gama, de um Real Madrid, e aos clubes locais...como estão na Amazônia, sobra a imagem de folclore.

Outro ingrediente importante é a auto-depreciação dos ícones locais muito bem realizada até aqui e que tem servido para a ampliação do mercado do futebol, especialmente num momento em que o centro sul do Brasil amplia seus investimentos nas regiões centro e norte do Brasil, divulgado suas marcas e alcançando novos mercados consumidores, caso especialmente ligado ao mercado amazonense que tem sua renda drenada pra os grandes clubes do sudeste em mercadorias e financiamentos com títulos de sócios.

E, observe que a imprensa local se põe num papel tão serviçal que é incapaz de rebater criticas infundadas e mau humores de técnicos e dirigentes do futebol nacional que falam sobre a realização de jogos caça-níqueis neste lugar chamado Amazonas.

Os nativos e residentes locais são importantes para isso, são alimentadores destas relações de desigualdades que se vem perpetuando na geografia do futebol brasileiro e ultimamente tem se unido aos seus colonizadores da bola, produzindo e depreciando seus próprios ícones e sua própria gente.

Uma visão critica não pode ser considerada sinônimo  de auto depreciação. Exercer a criticidade é sobretudo ter ou desenvolver a capacidade de analisar as diferentes facetas da realidade e dos eventos que nos cercam. Sem isso, este espetacular lugar chamado Amazonas, desta apaixonada torcida, continuará sempre a ser vista como uma Colônia do Futebol Brasileiro.

É só.

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