ELEIÇÕES 1989: 25 ANOS DO VOTO LIVRE

FOTO: ARTE DE CRIANÇA - V. BECHMAN 2008. AUTOR: M. BECHMAN, 2014

O ano de 1989 teve um importante significado para minha vida, foi um ano de mudanças e muitos acontecimentos que marcaram tanto a vida pessoal quanto a profissional. Em 1989, estava finalizando meu ensino médio (ensino secundário) na formação profissionalizante de Assistente de Administração de Empresas no Colégio Estadual Farias Brito no Centro de Manaus e minha geração de amigos e colegas era muito politizada.

No colégio Farias Brito haviam naquele ano três "Terceirões" ou seja três turmas de finalistas. A polarização eleitoral fora muito forte naquele ano especial, pois seria a PRIMEIRA VEZ que elegeríamos nossos dirigentes políticos nacionais e locais depois de anos de regime militar. No primeiro turno, votei em Guilherme Afif Domingos (PL) mais pela empatia do que pelas origens e filiações político-ideológicas - afinal um jovem aos 17 anos sempre sonha um futuro melhor.

No entanto meus colegas votaram massivamente em Lula (PT) e Brizola (PDT), chegando até considerar que todos os terceiros anos votavam em candidatos de esquerda. Passado o primeiro turno tivemos o enfrentamento entre Collor (PRN) X Lula (PT) e optei por Fernando Collor de Melo (PRN) numa visão positivista da realidade, enquanto meus colegas votavam em Lula (PT). 

Um dos meus melhores amigos, o finado Bento Reis, cabo da Banda de Música da Base Aérea de Manaus à época, também me acompanhava na opção de voto e numa conversa que tivemos nestes tempos às vésperas da eleição, havia me confidenciado que a eleição de Lula foi tema da fala de um dos brigadeiros da base aérea aos soldados. Bento Silva me falou que o Brigadeiro falou do perigo que corria o país caso Lula (PT) fosse eleito a Bandeira do Brasil seria mudada colocando uma faixa vermelha e que as liberdades seriam proibidas. Ele foi mais além, me disse que estariam de sobreaviso em casa e que se convocados deveriam se dirigir imediatamente a base aérea.


As urnas deram a vitória a Fernando Collor de Melo (PRN) e estes diálogos ficaram apenas gravados na memória que hoje, socializo como dever de cidadão, para que as gerações vindouras tenham clareza sobre o clima que ocorre durante um pleito político acirrado. A chegada de Collor ao poder federal marcou assim, a entrada do país no neoliberalismo dos anos 90, em que a Zona Franca de Manaus (ZFM) perdeu seu status de único lugar no país a ter o privilégio de importar produtos dos outros lugares do mundo, gerando uma das maiores crises socioeconômicas em Manaus, principalmente levando a grande perda de empregabilidade no comércio.

No plano nacional, o que lembro é que lutadores de artes marciais vestidos com a camisa do PT promoveram brigas em alguns comícios para mostrar nas tevês e jornais que o PT era violento e desordeiro e ainda, no primeiro turno, o candidato petista fora ofendido por jovens de classe alta na entrada da emissora Bandeirantes (Band) o que mereceu uma resposta na primeira parte do debate por parte de Lula.

Em 1989, estava também  estagiando na CEF (Caixa Econômica Federal). A inflação dos últimos meses de 1989 ninguém nunca soube explicar e nas ruas de Manaus, vi uma das coisas mais deprimentes de minha vida: um pai lavando seus filhos na sarjeta ou seja com a água servida, nunca esqueci aquela imagem e todas as vezes que lembro é impossível conter a emoção. Ainda sou um sonhador e sonho que um dia as novas gerações nunca testemunhem isso. É forte demais.

Nesta época, nada de internet, celular...nadinha mesmo, o que se tinha era telefone fixo com contas da Embratel e aqui Telamazon (onde hoje funciona uma loja da Riachuelo na Av. Getúlio Vargas com a Leonardo Malcher), e claro, o revolucionário aparelho de Telex (rsrsrsr)...isso mesmo telex! E olha no banco eu era um dos poucos que sabia operar esta máquina.

Este ano de 2014 celebro a primeira vez que participei de uma eleição livre para presidente do Brasil. Para os que banalizam o voto, estes não sabem o quanto os brasileiros sacrificaram suas vidas, seus empregos, suas individualidades para que neste dia 26 de outubro pudéssemos escolher soberanamente nossos representantes políticos. 

Mesmo nosso sistema político necessitando de adequações, em nada, isto poderá ferir a democracia e o nosso direito de escolher. São 25 anos desta conquista e, farei o velho ritual há 25 anos, acordar cedo...ir á Missa e depois para seção eleitoral depositar a minha esperança num Brasil melhor, mais justo e fraterno.

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