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FOTO: PROF. ME. MAURO BECHMAN. 2021. |
Por: Prof. Me. Mauro Bechman*
Hoje, a primeira brasileira foi vacinada em território nacional. Uma mulher de tez negra, operária da área de saúde e possuidora de comorbidades, Mônica Calazans de 54 anos funcionária do Hospital do Instituto Emílio Ribas. A vacina produzida em convênio com os laboratórios Butantan (Brasil) e Sinovac (China). Mas, nos perguntamos o que afinal de contas tem isto a ver com a Geografia?
A Regionalização do espaço brasileiro sempre representou a expressão do domínio das classes dominantes das regiões Sudeste-sul (usando a classificação do IBGE) sobre as demais regiões do país. A região norte sempre vista como uma "região deprimida" pelas classes dominantes ou ainda uma " fronteira" a ser vencida e incorporada ao todo nacional, onde reina a barbárie, teve nos últimos 20 anos toda uma atenção do Estado brasileiro. Da implantação de institutos federais de educação a programas assistenciais que visavam a mudança nos indicadores socio econômicos tão desfavoráveis em relação a renda, moradia e assistência primária de saúde.
Todo este esforço para reanimar as "regiões deprimidas" e neste sentido, incluímos aí o Nordeste brasileiro. Sob este espaço de tempo, as instituições símbolos da hegemonia do sul-sudeste, vieram cedendo espaço e prestígio para as novas arenas de produção científica e econômica. Neste sentido, com a criação de vários processos seletivos para ingresso nas universidades das centenárias como a Universidade do Amazonas (UFAM) ás recentes criadas sejam estaduais ou federais, assistimos a uma queda na visibilidade da Universidade de São Paulo (USP), visto que, outras universidades já iam ocupando as esperanças dos jovens brasileiros.
A metrópole São Paulo veio perdendo espaço no imaginário brasileiro como modelo de urbanidade. Professores do norte e do nordeste já não mais se dirigiam a São Paulo para se titularem, cujos mestrados e doutoramentos após cursados, iam nas salas de aula, exibirem aos acadêmicos além de títulos, suas "estórias e causos". Institutos como a Fiocruz do Rio de Janeiro e o Butantan de São Paulo, também entraram no caminho das universidades.
Com a queda do Governo Progressista (Estruturalista) advindo de um Golpe de Estado (Jurídico-midiático-parlamentar) em que as classes dominantes apoiaram abertamente a partir de suas associações patronais e meios de comunicação empresariais (FIESP/FIERJ, Sistema Globo/SBT/Record e jornais oligárquicos), as classes dominantes especialmente paulistas (poupadas de escândalos políticos desde 2012 até 2021). Lembramos que o palco das ações foi a capital paranaense Curitiba.
São Paulo volta ao cenário nacional em que rivaliza o poder político simbólico nas mãos da decadente classe dominante do Rio de Janeiro. E aí, a blindagem dos mega problemas dos paulistanos na grande mídia, tornou-se uma prática de autodefesa de uma parcela da classe dominante brasileira de fundamentos liberais, diante da barbárie do governo ocupado por atores ultra-neoliberais e plutocratas do Rio de Janeiro.
Chegando a 2021 em plena Pandemia global advinda com o surgimento do Sars Covid-19, a disputa política pela hegemonia sobre o território brasileiro emerge com os mesmos atores em cena: o Amazonas (região deprimida) com suas classes dominantes parasitas e alienígenas, Rio de Janeiro (ocupando o governo federal e o seu péssimo humor em que sempre se deprecia o outro) e São Paulo com sua classe dominante tradicionalmente sabotadora de projetos nacionais de desenvolvimento (veja a História de Golpes no Brasil). A Pandemia vitimou muitos idosos da classe dominante paulista, o que serviu de pressão sobre os atuais governos estadual e municipal.
Mas hoje, a primazia da vacina comandada pela classe dominante paulista, e o seu Butantan impuseram novamente aos brasileiros o "poder da Metrópole" capaz de responder com velocidade e energia as demandas dos seus cidadãos e ainda "estende sua mão amiga" a "província distante" ou "região deprimida", o estado do Amazonas, cuja classe dominante não se identifica com o lugar e mostra-se incapaz de gerenciar crises apesar de sua pujante economia.
Nesse sentido, a Vacina restabeleceu a Velha Geografia Regional no imaginário do povo brasileiro. Sem dúvida uma vitória da classe dominante paulista. Ela esperou por isso, desde 2012, por isso, derrubou uma presidenta, prendeu dois ex-presidentes e aceitou até este momento um governo federal sem a menor proximidade com a paulicéia desvairada.
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* Professor de Geografia. Professor de Geografia Regional e Urbana. Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia pela Universidade Centenária do Amazonas. UFAM.
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