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| FOTO: ENXADAS URBANAS. AUTOR: CUCUNACA, 2021. |
Por: Mauro Bechman*
Já fazia um bom tempo que não me deparava com a palavra "Enxada". Por trabalhar durante anos em atividades urbanas com itinerários muito restritos, não via trabalhadores portando ou manuseando esta ferramenta a não ser os funcionários da prefeitura na limpeza pública da cidade.
Em 2017 passei a residir na zona norte de Manaus e da mesma forma, via apenas as enxadas com o pessoal da limpeza pública.
Mas, foi mesmo em 2020 que passei a notar este trabalhador urbano que vaga diuturnamente ao longo do igarapé do Passarinho na zona Norte de Manaus.
São homens castigados pelo Sol com sacolas nas costas e enxada nos ombros. Param onde vêem casas com mato nas calçadas ou até canteiros em suas frontes. Batem de porta em porta e se oferecem para fazer a capinação ou a poda dos canteiros, já procedendo o ensacamento dos resíduos para que o proprietário não tenha nenhum trabalho.
Alguns moram muito distântes de onde buscam trabalho e fazem este percurso de pés enfrentando o rigor do sol e da chuva. Com suas roupas suadas e surradas fazem o serviço às vezes por um prato de comida. (Meu Deus!). O precariato urbano, em sua expressão e forma.
Eu mesmo comprei uma tesoura e uma pequena enxada para fazer a limpeza dos canteiros de flores e da capinação da calçada com mato. Mas, diante das situações que presenciei decidi deixar que estes trabalhadores fizessem o serviço e uma forma de ajudar a eles levarem ao menos um dinheiro para casa.
Aprendi na minha casa que devemos tratar bem a todos, especialmente os de maior carência. O meu lado cristão se compadece e se solidariza, mas o meu lado, ser humano, se revolta por permitir banalizar esta situação.
Com a Pandemia, a situação se agravou e alguns vagam psicóticos cantarolando ou rindo. Uma terrível cena. E eu, indignado a ver a cada dia, mais enxadas pelo Igarapé do Passarinho na rudeza da cidade dos Tiranos que é a 6ª Economia do Brasil, e o maior pólo eletroeletrônico da América Latina, mas que está infelizmente, se especializando em produzir enxadas urbanas.
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*Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas UFAM.

Que reflexivo, Prof Mauro.
ResponderExcluirAgradeço a partilha da reflexão. Sem ela não há transformação da vida e da sociedade. Seja sempre Benvindo.
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