AS FANTÁSTICAS VIAGENS DO ISENTO DA RUA DOS ANDRADAS


FOTO: PROF. M. BECHMAN.
AUTOR: CUCUNACA, 2020.

Por: Mauro Bechman*

Nestes dias de Agosto, tiramos um tempo para visitarmos pela rede mundial de computadores, alguns vídeos, publicados na plataforma privada YouTube, por internautas que mostram suas passagens por alguns países do Mundo em que talvez muitos brasileiros jamais sonhariam  conhecer.

Descrevem lugares, situações e sentimentos pessoais durante suas estadas.  Claro, não se pode esquecer que o viajante, mesmo letrado e bem "viajado" se auto proclama como isento, como se está declaração lhe concedesse, o selo indelével da isenção. 

Nestes casos, nos parece interessante lembrar que todos nascemos e vivemos numa dada sociedade, num dado lugar e sob determinada ética de vida. 

Daí, a idéia de isenção nos parecer uma extensão da tal neutralidade científica. É esquecer que nossa visão de Mundo e da vida permeia nossos pensamentos e nossas atitudes. Daí, emergem nossos pré conceitos e também nossos preconceitos.

Para muitos espectadores e internautas, talvez soe bom o selo da "isenção", aliás é uma forma de atrair mais seguidores.

Do ponto de vista geográfico, é difícil manter alguns formatos de visão promovidos pela mídia corporativa sobre algumas pessoas e lugares e que estão incustrados em nossos "repórteres amadores" em campo. Isto posto, significa que mesmo a narrativa de nossos viajantes, elas por sua gênese, já expressam claramente o etnocentrismo.

Claro, uma crítica real aos turistas brasileiros, a baixa leitura sobre os lugares que visita e por algumas vezes metidos em pequenas gafes. Talvez, muitas destas não sejam incluídas nos vídeos.

A questão central não é empatia (termo da moda) e sim, estudar a alteridade para assim, desvendar o Mundo. Partindo daí, talvez o viajante da Rua dos Andradas possa nos fornecer uma visão menos estereotipada e míope do Mundo e das culturas que partilham este planeta conosco.

Ver e relatar o mundo real com o mínimo de preconceitos ou apenas visões pre estabelecidas por narrativas intencionadas de empresas de comunicação não é sadio para o Turismo e nem para a Geografia. Somente, a busca pela informação coerente inclusive com nossas limitações intelectuais possam dar um brilho de autenticidade a aventura de conhecimento do Mundo.

Talvez assim, nossos viajantes possam nos mostrar o mundo muito mais real que fantástico.

E, viva a Geografia!

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*Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas UFAM. Professor de Geografia da rede pública do Estado do Amazonas.

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