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| FOTO: PROF.ME. M. BECHMAN. AUTOR: CUCUNACA, 2021. |
Por: Mauro Bechman*
Durante quase duas décadas o Brasil celebrou a sua saída do Mapa Mundial da Fome. Neste ano, o país retornou a esta cartografia do subdesenvolvimento. Estes dias, vínhamos pensando em publicar neste espaço algo a respeito.
Nas duas últimas semanas, aconteceram algumas situações que tristemente inspiram estas linhas. Uma delas, foi a constância de pessoas que vagam pela cidade, catando resíduos domésticos. Há pouco mais de três anos, essa realidade não era visível no lugar onde residimos, na zona norte de Manaus.
Nesta penúltima semana de setembro, ao menos quatro catadores passaram pelos resíduos depositados em sacos na calçada da frente de nossa casa. E, um destes catadores, trazia além de um carrinho de ferro, sua companheira. Era um casal de idosos catadores que faziam das ruas seu espaço de trabalho.
Nos olhos, do homem, um pouco de vergonha e a senhora, vinda de dentro de uma padaria, o chamava feliz, dizendo que ali, poderiam tomar um cafezinho, pois a padaria oferecia como cortesia.
Nossa! nos sentimos pequenos diante da cena.Voltamos para dentro de casa e ali como costumamos separar plásticos e metais, demos ao senhor uma sacola com latas de refrigerantes vazias.
Noutro dia, vimos uma criança por volta das 12h da manhã na porta da padaria na mesma rua da nossa casa.
Estranhei porquê a criança, que devia ter entre 08 e 10 anos, ficar apenas na porta da padaria. Neste horário, que já é hora do almoço nas famílias. Meio penalizado, um dos proprietários veio com uma sacola de plástico, cheia de pães, doces e salgados e entregou a criança que agradeceu e saiu feliz.
Passando por nós, o jovem proprietário disse com uma voz meio embargada. "É...há pessoas que estão passando dificuldade e nem tem o que comer." afirmou e passando ao nosso atendimento.
Conversando com alguns colegas de docência, alguns nos afirmaram que com relação a merenda nas escolas públicas, os alunos tem preferência por comida, como peixe, picadinho de carne, jardineira e outros pratos contando que fosse em forma de refeição.
E, segundo os mesmos colegas, os alunos não gostavam muito quando a merenda era um lanche ou apenas frutas. Ao que parece, as famílias não vem conseguindo prover os seus membros, ou seja, alimentar os seus filhos.
Talvez seja, um espectro que mostra que a Escola vem perdendo seu sentido maior que é o de Instruir e Educar para alimentar crianças e jovens que fogem da fome em seus lares.
Cremos que a partir de agora temos que lidar com esta realidade, um país que produz bilionários mesmo durante a hecatombe de uma pandemia e ao mesmo tempo joga milhares de brasileiros famintos nas ruas.
Como nos ensinava o geógrafo Melhem Adas, há duas espécies de fome, a fome total e a fome específica. A total consiste na ausência concreta de alimento e a específica na falta de nutrientes e vitaminas.
Ao que parece, o Brasil do século XXI possui novamente as duas formas. A fome vaga pelo país e ela não é um fantasma.
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* Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas. UFAM.

Infelizmente, é a realidade que vemos aqui na zona leste também, muito triste quando as decisões estão nas mãos de quem não se importa com pessoas.
ResponderExcluirTriste cena de Manaus. Obrigado pela presença nobre administradora.
ExcluirÉ uma realidade que faz doer dentro de nós meu amigo, mas sabemos que só oração nao vai resolver tudo na realidade de um pais que esta pranticamente indo a caminho de um abismo sem luz nenhuma no final desse abismo é difícil encontrar ou buscar soluções imediatas então vamos preparando nossos corações pra deparamos com situações iguais essas por longos períodos,parabéns pela matéria abraço meu irmão.
ResponderExcluirMuito agradecido e honrado por seu comentário, querido irmão na fé. Que o Espírito nos dê discernimento e amor para enfrentar com lucidez e energia esse tempo. Nossas ações sejam sempre a manifestação da fé dita pelo mestre dos mestres, divino e humano. Grande abraço!
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