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FOTO: TEATRO AMAZONAS. #29 1ª MANIFESTAÇÃO PÚBLICA. AUTOR: CUCUNACA, 2021. |
Por: Mauro Bechman*
E aí vem Ajuricaba apoiado pelos valentes e inteligentes Muras. Por aqui era só o Forte em 1727 e tiveram que chamar a armada real portuguesa sob o comando de Belchior de Menezes para tomar o Rio Negro e banhar de sangue nativo o rio Urubu.
E o chefe dos Manaú e seus generais levantam em ferros preferindo a liberdade que a Escravidão. No Encontro das Águas á frente da Manaus que seria na verdade, dos Manaú, a entrada para a História e para o panteão dos heróis marginais. E Ajuricaba volta a Jurupari.
E os Manaú e os Muras tingem a água.
Nos anos 1970 começa a construção da BR-174 que liga Manaus a Boa Vista, há silêncios na mata. A construção da rodovia nas terras dos Waimiri e Atroaris, mais dor. Falam em lutas desiguais onde só há testemunhos apenas na memória que se perde a cada dia.
Armas de guerra contra flechas e os nomes de Maroaga e Comprido ecoam incomodando a História da Civilização, enquanto as terras foram sendo esvaziadas.
E os Waimiris e Atroaris tingem a terra.
Em 2017, uma revolta na passagem de ano, nas prisões da cidade de Manaus e 56 presos morrem diante da salvaguarda do Estado que já não tem sobre eles a soberania. E a cidade testemunha sua própria desumanidade.
O sociólogo de palavras é chamado a ver a barbárie e a jornalista de sorrisos e shoppings centers tem o seu batismo de realidade. Enquanto isso, do outro lado do oceano, o Papa Francisco pede orações a Deus por Manaus.
E os manauaras tingem os noticiários.
No inverno amazônico de 2020 tem início a Pandemia do Sars Cov-2 na 6a economia do Brasil, sem hospitais e a falta de educação básica intelectual 9.479 manauaras perdem suas vidas para a negligência e a ignorância do Estado brasileiro. Uma cidade experimento, de dor e sofrimento.
E os manauaras tingem as redes sociais privadas do mundo inteiro.
E a Cidade dos Manauaras faz 352 anos, seu aniversário de máscara, pelo vírus e pela vergonha. Talvez fosse assim, a imagem que marcará este tempo de tirania contra a cidade morena, minha cidade.
Salve a vida! Estamos vivos.
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*Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas UFAM.
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