FOTO: M. BECHMAN. AUTOR: CUCUNACA, 2021. |
Por: MAURO BECHMAN*
Em todos os lugares e em muitas ocasiões devemos ter uma noção quando não somos bem-vindos. E, para isso, precisamos compreender e saber a hora de sair.
Certa vez, creio que eu tinha uns 11 anos de idade, fui chamado para jogar um torneio de de futebol, no badalado "campo do Jiquitaia". Imagine só.
Como jogava de futebol no Oratório São Domingos Sávio, ali também jogavam alguns coleguinhas de bola. Então, eles viviam me dizendo: "Vou te levar pra jogar no Jiquitaia". "Tu devia jogar no Jiquitaia", era um tal de Jiquitaia para cá, Jiquitaia pra lá, que meu Deus!
Então, montaram um time e me incluíram para jogar no tal "campo do Jiquitaia". O Jiquitaia (nome de uma formiguinha vermelha cuja picada dói e arde que nossa!) era um campinho no meio do "Buraco da Marreca" atual Prosamim no Centro de Manaus, entre as ruas Ramos Ferreira e Sete de Setembro no Centro de Manaus.
O campo só aparecia quando o Igarapé secava. Era, um legítimo campo de várzea. Para ter acesso, tínhamos que descer a escadaria aberta da rua Jonathas Pedrosa até a Sete de Setembro, e superar alguns obstáculos como canos de esgoto, jirais e passar por debaixo da casa de alguns moradores do lugar.
Ao ser avistado por mim, vi o campo de terra batida ainda muito úmido com a presença de alguns "olhos d'água" que jorravam discretamente próximo as laterais do campinho.
Lá fora, torcidas com bandeiras e tudo. Nossa! Uma surpresa pra mim. E gente para assistir aos jogos. Nosso time era composto por seis jogadores. Lembro de alguns colegas, Alex Fabiano, Chiquinho, Alex Romero, Mario Marcelo e outros que me fogem a memória. Nosso uniforme, branco parecido com o do Fast Clube.
Superamos os primeiros adversários, e chegamos às quartas de final. E foi nesta fase que deixei para trás o Jiquitaia. Num dos jogos das quartas, joguei tão mal, mas tão mal... Que ouvia alguns torcedores dizerem: "Esse branquinho é meio ruim", "Quem é esse número 9?", "Ei número 9, pede pra cagar e sai!". (Risos). Coisinhas do gênero.
Então, fomos derrotados naquela partida. Saí daquele jogo todo enlameado. Nosso equipamento branco, imundo e tinha até lama no meu pescoço.
Depois desse fracasso, decidi não ir mais ao Jiquitaia. O time continuou no torneio, sem mim. Achei melhor sair, afinal a gente mesmo ainda pequeno tem que saber quando não vale a pena ficar. Ou seja, já era a hora do número 9 sair.
Não sei que posição o time ficou, mas o que ficou em mim foi a lição de que temos que saber sempre quando não somos bem-vindos ou seja, quando é chegada a hora de sair.
Com a construção de uma das etapas do Prosamim (Programa de Saneamento Ambiental dos Igarapés de Manaus) a área, o Jiquitaia desapareceu, mas ficou na minha memória a situação e a lembrança do lugar que hoje atualizo.
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*Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas UFAM.
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