FOTO: CAMISA CANARINHO. AUTOR: CUCUNACA, 2014. |
Por: Mauro Bechman*
Houve um tempo em que a Camisa da Seleção brasileira de Futebol masculino era vista como uma camisa que transmitia aonde chegava, os sentimentos mais genuínos da humanidade, a alegria e a paz.
Hoje, Édson Arantes do Nascimento, o Pelé deixou este plano. Sua vida esplêndida deixa um livro de muitas lições. Não desejamos ser repetitivos, pois cremos que os jornalistas esportivos são muito mais preparados para narrar as muitas passagens de Pelé.
Nosso intento aqui será sobre a camisa da Seleção brasileira de Futebol, que após a derrota do Brasil para o Uruguai na Copa do Mundo de 1950 com o gol de Alcides Ghiggia, a antiga Confederação Brasileira de Desporto CBD decidiu abandonar a camisa de cor Branca e adotando a camisa amarela apelidada de "Camisa Canarinho". Então, o branco da Paz é substituído pelo amarelo canarinho.
O futebol é um fenômeno impressionante, pela sua capacidade de estabelecer relações de sociabilidade onde o senso de civilidade é posto à prova. É o caso em que na fronteira da Bélgica, na trégua de Natal, inimigos em armas, cessaram as hostilidades e disputaram uma partida de futebol em 1914 durante a I Guerra Mundial (1914-1918).
No caso de Pelé, segundo as narrativas tratam de 1969 durante uma excursão do Santos F.C ao continente africano, mais especificamente na Nigéria. A guerra civil entre os grupos étnicos hauças x igbos, episódio conhecido com a Guerra de Biafra (1967-1970) foi o contexto turbulento em que o futebol se manifestou como diplomacia e bandeira de Paz. O Santos venceu por 2 a 1 a seleção de Benin durante uma trégua para que o jogo ocorresse. Mito ou verdade, o fato é que a narrativa é presente na memória dos santistas alicerçados nos acontecimentos históricos daquele contexto.
Episódios como estes, mostram a força do futebol como cultura global. Também não eram tão raros os casos em que jornalistas brasileiros que cobriam zonas de conflito e guerras, quase sempre lançavam mão de uma camisa canarinho para gerar amistosidade com os combatentes o que geralmente lhes garantia as reportagens e a própria vida.
Da camisa branca da Paz a camisa Canarinho, a presença da alegria do futebol arte brasileiro a serviço da paz. Se símbolos são construídos em nossa memória e imaginário, certamente isto se dá graças a homens e mulheres que desempenharam sua missão neste plano com grandiosos empenho e talento.
Triste a camisa da Paz, usurpada e simbolicamente associada ao extremismo e o ícone canarinho retratado com a face raivosa, apelidado de canarinho pistola. Nos perguntamos, como é que permitimos que isso ocorresse? Por isso, Pelé te pedimos perdão.
E maior que tudo isso, te reverenciamos e agradecemos, por ter vindo à nossa amada Manaus e por todas as alegrias que destes as gerações de brasileiros.
Que o Senhor de Infinita Misericórdia o receba em sua páscoa eterna e que Maria mãe do puro amor, acolha a todos os brasileiros neste instante de sua partida.
Pelé, rei do Futebol.
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*Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas. UFAM.
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