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MANAUS: VELHA CIDADE VELHOS ATORES E ESPERANÇAS RESISTENTES


FOTO: M. BECHMAN.
AUTOR: CUCUNACA 2024.

VELHA CIDADE VELHOS ATORES E ESPERANÇAS RESISTENTES 

Por: Mauro Bechman*

Esta penúltima semana do ano de 2024, decidimos ir ao Centro Histórico de Manaus fazer algumas compras, coisas do "Espírito capitalista do Natal", comprar presentes. O tempo nublado, pois em Manaus nesse tempo é chuvoso, e assim mesmo fomos. 

Às vezes, nos perguntamos porquê vamos ao Centro se hoje em qualquer região da Cidade se tem opções de compras? Para quê este dispêndio todo de energia e recursos?

Talvez seja pela Tradição mesmo, aquela memória romântica de lá dos anos 1980, das ruas lotadas, pessoas freneticamente com pacotes enquanto vendedores não descansam suas pernas. São as compras de Natal. 

Neste ano, entretanto, nos parece que o Centro Histórico ficou um pouco mais desbotado. Os velhos atores estão por lá, jovens vendedores, ambulantes e alguns policiais para manter a ordem. 

Em meio a isso, o cenário de decadência urbana em prédios públicos e privados. Placas de aluguel, intercaladas com placas de venda de imóveis numa sequência que chegam até se alinharem a quarteirões. 

Uma cidade em abandono, com suas fachadas belas, porém desbotadas. Ruas que outrora eram a vanguarda dos importados e das novidades tecnológicas, agora servem de depósitos de mercadorias made in China, restaurantes para operários do Centro ou ainda ambulantes comerciantes de tecnologias ultrapassadas. 

Uma paisagem que Milton Santos descreveu como o Circuito Inferior da Economia urbana. Idéias inovadoras congeladas, algumas lojas permanecem no mesmo estágio comercial. Marcas que se cristalizaram no espaço do Centro.

Pelas ruas, passantes, aos poucos vão sendo desnudados por um olhar mais face a face. Daí rostos se revelam. 

Jovens sonhadores dos anos 1980, envelhecidos e brutalizados pelo sistema internacional e pelas ilusões que alimentaram vagam com sua educação oferecendo produtos ultrapassados como livros reusados ou quaisquer outras quinquilharias por alguns trocados. 

Seus rostos, nos lembram os jovens sonhadores de outrora, crentes fielmente no mercado, seu arrebatador. 

Pelas ruas seguem, com suas roupas de três décadas atrás. São personagens deste Centro de Manaus em 2024. 

Em nós, um silencioso desespero e a reflexão: o que fazemos de nós mesmos?

Voltamos para casa, o céu nublado e cidade envelhecida foi ficando pra trás. Dela, trago minhas compras e agora um ar de tristeza com uma sensação de impotência diante da realidade.

Durante a noite, ao menos as luzes da decoração de Natal do Largo de São Sebastião e do Mirante, ofusquem aqueles cenas urbanas que só se vê à luz do Dia.


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*Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas UFAM. Professor de Geografia da Rede Pública de Ensino.

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