PRIMEIRAS LEMBRANÇAS DO CARNAVAL DE MANAUS

FOTO: KAMÉLIA. AUTOR: M. BECHMAN, 2014.

Todas as vezes que lembro dos carnavais de Manaus, lembro com espanto filosófico e alegria de menino a descortinar as cenas do mundo.

Uma das imagens mais emblemáticas do carnaval amazonense é sem dúvida a Boneca gigante Kamélia, imortalizada como símbolo da abertura do Carnaval de Manaus. A boneca negra, baiana existe a 76 anos e até hoje nos fascina com a sua chegada que marca a abertura do carnaval em Manaus. A Kamélia e seu cordão carnavalesco já veio do aeroporto de Ponta Pelada, do Porto de Manaus,  e neste ano de 2014 veio do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes. Numa Manaus que passou em 30 anos de uma cidade pacata a metrópole da Amazônia, imagens do passado nos trazem a lembrança festiva da Chegada da Kamélia para abertura dos festejos de Momo e Como.

Outro símbolo que infelizmente não cheguei a presenciar, foi a da boneca Jardineira, símbolo do Internacional Clube que funcionou no Boulevard Amazonas ou Avenida Senador Álvaro Maia. Lembro dos blocos de sujos que desfilavam soltando pó de arroz nas pessoas em meio a turba que misturava alegria, tristezas e desespero numa Manaus empobrecida nas décadas de setenta e oitenta do século passado.

Na Avenida Eduardo Ribeiro - centro histórico de Manaus - lembro dos desfiles das escolas de samba...foi lá que vi pela primeira vez a Escola de Samba Vitória-Régia desfilar o orgulho da comunidade negra da Praça 14 de Janeiro. E também vi os vendedores de chapéus e máscaras. Adorava tudo isso, e nesse tempo, os chapéus de palhaços e arlequins tinham na sua frente impressos os escudos dos clubes amazonenses, Nacional, Rio Negro e Fast Clube.

A primeira vez que fui a um clube foi no Cheik Clube na Avenida Getúlio Vargas durante um baile infantil. Vi as pessoas alegres e os círculos com crianças e adultos no salão a misturarem-se com confetes, serpentinas, colares havaianos e máscaras ao som de muitas marchinhas de carnaval. Fiquei deslumbrado.

Lembro das escolas de samba, a Vitória-Régia, a Barelândia (Hoje extinta) e da Em cima da Hora do bairro dos Educandos (Extinta) que davam o tom da disputa clássica na História Cultural Popular de Manaus com a rivalidade entre os bairros da Praça 14 de Janeiro (Vitória-Régia), Barelândia (Parque 10 de Novembro) e Em cima da Hora (Educandos), disputas que vinham desde as festas juninas, pois estes bairros sempre disputavam os festivais folclóricos do Amazonas com suas danças e brincadeiras originais e folclóricas.

Nesta riqueza de pobreza e alegria via a Manaus celebrar um carnaval nas ruas, com mascarados, arlequins, homens travestidos de mulheres, bêbados pelas calçadas, perucas e muito pó-de-arroz...ao som frenético de marchinhas e músicas de beiradão...era carnaval.

Este ano, quando a minha escola de samba do coração entrar sambódromo e aquecer os meus ouvidos ao som do "Acorda minha gente tá na hora/Da alegria se espalhar/O meu coração está todo prosa/De verde e rosa na avenida a desfilar...Vitória-Régia não é brincadeira/Saia da frente que vai levantar poeira..." (Samba de Concentração: Paulo Onça). Novamente virarei criança e deixarei por um instante no tempo, a vida pulsar em sua intensidade e plenitude para celebrar a vida, mesmo porque tudo virará cinzas na quarta-feira.

Saudações Carnavalescas!

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