AMAZONAS, A COLÔNIA DO FUTEBOL


Foto: Entrada para Jogos na Arena da Amazônia Vivaldo Lima. Autor: M. Bechman, 2014.
A Era Globalitária nos leva a algumas reflexões sobre a inserção do futebol brasileiro na dinâmica econômica global balizada pelo Mercado capitalista e consequente inserção do Amazonas no cenário futebolístico do Brasil.

As conquistas do futebol brasileiro durante as Copas do Mundo da FIFA elevaram a auto-estima dos brasileiros por décadas, afinando um discurso de pertencimento e unidade nacional e promovendo a difícil e trabalhosa costura da identidade do país, seja do ponto de vista social, em que o futebol, inseriu no jogo, os seguimentos marginais neste processo de construção da civilidade ocidental: negros, mulatos, mestiços, e pobres, servindo de um fantástico cimento de coesão popular em torno de um esporte.

Entretanto, nas últimas décadas 1990 a 2010 estamos assistindo a um processo de reordenação - Ops! Escrevi mesmo reordenação do futebol. A derrota brasileira na Final da Copa de 2014 realizada no Brasil, o país do futebol arte, significou mesmo um estabelecimento novo na ordem do futebol mundial. Falar em futebol arte, é difícil nos dias atuais, com atletas cada vez mais vindo das classes médias assessorados por escolinhas profissionais e até olheiros que viraram empresários de jogadores.

A queda por 7 a 1 talvez tenha sido somente a cereja do bolo num cenário que vem se verificando, com a fuga de capitais (jogadores) para o exterior, fazendo assim, do futebol brasileiro, uma seleção globalizada que ironicamente foi goleada por uma outra seleção que tem a maioria de seus jogadores formados e atuando em seu país, no caso, a Alemanha. Aí levanto uma questão sobre a competência deste futebol globalizado! Ao que parece o futebol brasileiro ingressou na era globalitária como mero fornecedor agora, de mão-de-obra barata.

No plano nacional, a decadência vem sendo construída pela presença "oligárquica" do sudeste do Brasil com seus clubes midiáticos e a criação do famigerado clube dos 13 findou por iniciar um processo de marginalização do futebol brasileiro,  alienando clubes tão tradicionais quanto antigos do nordeste e norte do país, justaposto a uma ação da mídia nacional localizada no eixo Rio-São Paulo que buscou enquadrar o futebol na sua matriz de programação.

Infelizmente o futebol do Amazonas ingressa neste cenário globalizado, reforçando seu caráter de futebol satélite, ou seja, colônia do futebol brasileiro praticado no eixo Rio-São Paulo. Sob as bençãos de uma media esportiva que ora caduca ainda com o deslumbre com os clubes e atletas do sudeste (que só viam por televisão) ora mostrando-se acéfala, sem um criticismo necessário a ponto de promover e incentivar os clubes não locais contra os clubes nativos,  reforçando este papel colonial. Fato este, também, endossado pelas elites socioeconômicas amazonenses que abraçam os clubes extra-regionais como seus ícones e até usam a internet para a manutenção desta força arcaica e colonial.

A ausência de uma identidade das elites locais com os nossos clubes reflete o comportamento do povo amazonense que passa a se identificar com clubes extra-regionais e por conseguinte, a financiá-los via aquisição de seus produtos. De fato, uma triste ironia, torcedores amazonenses pela força de uma media colonizada, torcem por times de futebol de fora de sua região, merecendo a alcunha criada por nacionalinos de "Amariocas" - amazonenses que torcem por times cariocas.

A Arena da Amazônia Vivaldo Lima foi um palco especial e muito decantado durante a Copa do Mundo da FIFA e claro, bastante "apedrejado" antes e durante a sua construção. Agora, a Arena para manter-se com função acolhe eventos e jogos de clubes do sudeste do Brasil no exercício para o fim que foi construída, eventos! 

Quanto ao futebol amazonense, bem...enquanto não houver uma reforma das mentalidades na sua direção e na media esportiva,lamentavelmente ficará na frente da televisão a assistir sua descaracterização decadente num papel de subalternidade eterna. Lembro a todos os amigos e amigas que o Nordeste brasileiro livrou-se deste julgo e Cuiabá vem potencializando seus clubes e promovendo seus jogos na Arena Pantanal, mesmo os das séries C e D do certame nacional.

Quanto as gerações de jovens torcedores do futebol amazonense, recomendamos que vão aos estádios e acompanhem seus clubes amados, não fiquem a mercê da leitura míope de uma imprensa esportiva local amadora, colonizada, cujo maior mérito tem sido o de reforçar a posição do Amazonas como Colônia do futebol brasileiro, donde serão drenados milhões de reais sob os aplausos da elite socioeconômica local e do prazer sadomasoquista de torcedores auto-depressivos. 


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