SÃO PAULO: A MIOPIA DA METRÓPOLE NACIONAL


FOTO: ARTE-IMAGEM SOBRE QUADRINHOS DE MOORE - EXPOSIÇÃO DE QUADRINHEIROS EM MANAUS. MANAUS.AM. AUTOR: M. BECHMAN, 2014.

Desde de que São Paulo tornou-se uma metrópole nacional e uma importante cidade mundial, estamos presenciando uma mudança geográfica na história das idéias. Se levarmos em consideração a História do Brasil enquanto eventos realizados a partir das chamadas “ilhas” do país envolto em sua historiografia regional e política, podemos apontar que a elite se caracteriza não apenas pelo poder político, mas pela capacidade de apreender as diversas formas de territorialidade inclusas em sua rede hierárquica urbana e regional.

No período colonial, a principal metrópole nacional era na Salvador que rivalizava com Recife na vanguarda das idéias, a despeito das capitais do norte que obedeciam a dinâmicas e conteúdos sócio-espaciais muito distintos e inclusive em suas relações com Portugal.

Após a passagem do ciclo da cana-de-açúcar e a maior presença colonial portuguesa na porção centro-sul do Brasil colônia, ocorreu a migração da metrópole colonial da Bahia para as cidades coloniais mineiras e com esta migração, o centro difusor das idéias passa a fixar-se em Minas Gerais, devido essencialmente ao fluxo e as suas riquezas minerais.

No Brasil império, vamos ter o Rio de Janeiro como metrópole do território nacional como centro de poder, hegemonia essa exercida com certa primazia sobre as demais regiões do país, uma vez que, a formação do povo brasileiro a partir da formação da população carioca começa a exercer um peso na cultura começando a ser expandida pelo resto do país. O Rio de Janeiro coloniza as demais regiões pela cultura como ingrediente essencial na formação da identidade nacional.

No século XX temos dois momentos elementares; o primeiro ligado ao ciclo do café e o segundo a industrialização paulista que alçará São Paulo a condição de líder na rede urbana e nacional, momento este consolidado na mudança da bolsa de valores para São Paulo na década de 1970 o referendando como espaço econômico da America Latina.

Neste sentido, o papel de compreensão da territorialidade brasileira passa a ser de São Paulo á medida que este poder se materializa na sua forma econômica e no campo das idéias. O país passa a ter São Paulo como referência de vanguarda.

Num país cuja territorialidade nacional ainda encontra-se em plena construção, São Paulo e sua elite passam a comandar e a se responsabilizar pela formação da identidade do nacional. Neste lugar, encontram-se os meios de comunicação de massa como centros irradiadores da idéia de identidade nacional, como as TVs, rádios, jornais e as produtoras de livros e não menos relevantes as universidades, estas como meio difusores de idéias e de ciência.

Muito embora, São Paulo e sua elite tenham uma formação cultural alicerçada "fora do país", a industrialização influencia diretamente a composição das idéias hegemônicas na sua elite socioeconômica. Pois a elite paulista, buscará manifestar sua hegemonia geográfica a partir da economia. 


A elite paulista, ainda se vê como, elite provinciana a partir de partidos políticos que não conseguem “ler” o país, os cenários de mudança no protagonismo nacional que vem sendo alterado nas ultimas décadas com a reestuturação nordestina antes retratada apenas como região deprimida e a inserção da Amazônia na questão socioambiental e mundial, ainda vista como periferia do Brasil.

Manaus com a 6ª economia do país, não pode e nem deve ser ignorada e o nordeste para onde a dinâmica do consumo vem sendo estendida e para onde muitas pequenas empresas localizadas na região sudeste vem se expandindo e construindo filiais...o que a elite paulista ainda insiste em não enxergar.

Décadas de uma visão míope sobre o país conduzem São Paulo a uma pseudo liderança na rede urbana do país, sob as restrições de mineiros, fluminenses e gaúchos. Preconceitos e pré-conceitos de suas elites levam São Paulo a um distanciamento do país, se auto-retirando do processo de construção nacional.

No século 21 a História se manifestará pela Geografia, onde as regiões e as novíssimas metrópoles brasileiras passarão a ser protagonistas da História do Brasil não apenas como apêndices das regiões mais desenvolvidas, mas como condutoras de sua história...algo similar aos períodos em que a História do pais era referendada apenas por “ilhas”.

Em 2014, a Copa do Mundo da FIFA e as eleições presidenciais no Brasil são um exemplo claro de que a grande metrópole da America Latina precisa tratar da miopia, seja por uma correção cirúrgica ou pela adoção de óculos com graus.



Nenhum comentário:

Postar um comentário