TOME SEUS VENENOS

FOTO: GRAFITE DE ARTISTA DE RUA. MANAUS. 2014.

Ele acorda, pensa no Dia, pensa no seu "Deus". Levanta, tudo muito igual a todos e a todos os dias. Ele repete tudo, seu segundo nome é repetição. Ele se nutre da comida suja dos porcos, todas as manhãs, todas as tardes, todas as noites. Lhes preenchem a caixinha, vazia. Pensam por ele. Sonham por ele. Ele pensa que pensa. Ele sonha que sonha. Ele dorme. Está nu e não vê. Segue o ritual, come feno, toma venenos, finge que é feliz. Ele não sabe o que é ser feliz. Ele não sabe a razão da dor, pois pensa que não tem dor. Liga as caixas de mantras (repetição e chicotadas) ouvido estourado, segue para o trabalho. Visão 25%. Ele ainda acha que possui sentimentos. Ri com sua boca de metal, saliva tóxica e voz grunida. Veste suas vestes para aparentar sadio. Ótimo disfarce. Os iguais o reconhecem. "-Ele é dos nossos!". Segue seu destino de vaso vazio. Um pássaro lhe sobrevoa e vai embora. Não há nada a fazer por essa espécie de nada. É o fim do dia de trabalho, ele volta pra casa e antes de dormir, toma seus venenos! Para repetir de novo, todos os segundos de sua anti-vida.

Silva, do Castro.

2 comentários:

  1. Ótimo texto, recomendo a todos que façam a leitura desde belíssimo trabalho.

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  2. Agradecido pela presença querido professor!

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