FOTO: M. BECHMAN. AUTOR: CUCUNACA, 2021. |
Por: Mauro Bechman*
Desde uns 7 anos de idade, mantinha uma espécie de caixinha com alguns dos meus pequenos brinquedos e lembranças, uma espécie de Baú de guardar coisas que tinham algum significado para mim, seja ele histórico ou afetivo.
O fato é que desde criança gostava de guardar lembranças desde provas da escola, até santinhos que distribuíam na igreja.
E os anos foram passando e fomos acumulando coisas, e com o avanço na vida escolar e acadêmica, o volume de coisas, papéis, pequeno objetos, agendas, cadernos, textos foram aumentando exponencialmente.
Para o leitor ter uma idéia, ainda mantenho uma prova do meu primeiro ano na Escola, lá de 1982 que guardo ainda com grande amor e zelo.
Então, a cada mudança de endereço as caixas iam aumentando. Desde a adolescência gostava de escrever e por isso, passei a gostar de agendas. Isso, adorava ganhar agendas e ou comprá-las e era meu hobby preferido escrever nelas, fazendo assim meu diário de vida.
Com o tempo, só de agendas já possuía mais de vinte, todas preenchidas seja com um simples roteiro de tarefas ou com textos autorais.
No dia que o governo do Estado do Amazonas suspendeu as aulas presenciais em março de 2020, isolados em nossa própria casa, nos deparamos com a quantidade de materiais que havia guardado e trazido conosco desde há muito tempo. Dentre, revistas, jornais, livros, suvenires, recortes estavam as agendas usadas ao longo dos anos. Agora, um grande dilema, o que fazer com tudo isso.
Ficamos na solidão da casa diante das caixas de agendas, refletindo sobre os fatos do presente e as suas consequências.
Pensamos em nossa família, nos amigos e amigas, e sobretudo no que éramos e nos tornamos ao longo dos anos, tendo ali diante dos alhos, o testemunho escrito de parte de nossas vidas.
Não havia como conter as lágrimas diante da incerteza que Pandemia trouxe para nossas vidas e mais ainda, certeza de que não seríamos mais os mesmos dali em diante. Em meio a tudo isto, decidimos eliminar as agendas para reduzir a quantidade de material arquivado.
Quase que desesperadamente fomos selecionando algumas páginas de maior importância e as arrancando do encadernado, ficando apenas com as páginas escritas com algum valor sentimental.
Levaram dois dias inteiros este serviço, ler, separar, arrancar e descartar. E, de repente, olhar para as agendas descartadas e aceitar que já não éramos mais aquilo. Aceitar que o tempo passou e que carregar consigo todos estes materiais talvez fosse desnecessário e até inglório.
As páginas mais importantes foram preservadas e ficou a clareza da necessidade do desapego do que não somos mais. Não somos mais grande parte do que aquelas agendas registraram, foram apenas uma fotografia de momentos em nossas vidas.
Pois, o tempo rei nos mostrou que é preciso seguir em frente, a partir do hoje, do eterno começo do agora.
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*Mestre em Sociedade e Cultura na Amazôna pela Universidade Federal do Amazonas. UFAM.
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