50 MAIS 6: O QUE APRENDI NO EXÉRCITO

FOTO: M.BECHMAN, 1990. AUTOR: DESCONHECIDO. ACERVO FAMILIAR. DIGITALIZADO POR CUCUNACA, 2021. 

Por: Mauro Bechman*


Em 1990 servi o Exército na Companhia de Comando e Serviços do Colégio Militar de Manaus.

Incorporamos sob uma situação difícil, a turma de 89, tinha oficiais suspensos e graduados detidos. Segundo, contavam os mais antigos, só sobrou o cabo armeiro, longe da detenção.

Era uma turma de combatentes clássicos, com toda a bravura do combatente de selva. E, também expostos, a rigidez da caserna e por sua baixa formação.

Então, a nova incorporação não podia ser a repetição das outras. Aí vocês me perguntariam o que aprendi no exército?

Ora, foram muitos os aprendizados, o companheirismo, a isonomia entre os soldados, a vibração, o foco no trabalho, a atenção diante das ameaças, a disciplina, a autodisciplina e o senso de preparação, desde a higiene pessoal até a manutenção dos equipamentos e instalações militares.

Como possuía o ensino médio completo não deseja servir mas trabalhar por meus sonhos. Naquela época, sonhava em ser estudante universitário.

E por isso, não e esforcei para servir no NPOR (Núcleo Prepatório para Oficiais da Reserva) embora outros colegas de turma optassem por servir. Enfim, acabei servindo o exército como soldado.

Entrei com o corpo de um menino de 17 anos e saí como um de um Homem feito e a atividade física tornou-se uma rotina em minha vida, mas que a partir de 1995 relaxei pois havia a universidade e também a missão de trabalhar para o sustento da família.

E uma das coisas mais importantes diante das crises e desafios da vida, certamente é a autodisciplina.

Já tinha uma autodisciplina, ensinada pelos meus pais, mas o que aprendi no exército certamente serviu para enfrentar este tempo de Pandemia.

Os rituais para todo o dia, a higiene das coisas de casa, dos alimentos, das nossas vestimentas e sobretudo da rotina para se manter a Lucidez diante deste inimigo invisível, chamado Sars Cov-2.

No começo e até o fim do ano de 2020, até a família achava um exagero meus cuidados e depois com o aumento dos casos, foram os familiares que passaram a manter os rituais.

Há um ditado em Manaus de que quando você entra no Exército ou se endireita ou se entorta de vez. (Risos). Creio que apenas fiquei melhor, mais sábio ou como dizem na gíria militar "mais safo". 

As instituições são como pessoas, tem suas imperfeições, mas você é único e pode delas extrair as coisas boas e excluir aquilo que não vai te acrescentar.

No final de 1990, entramos em "baixa". Saí na segunda baixa, não por indisciplina ou algo semelhante, mas por necessidade do comando.

Na última formatura no pátio, ainda lembro bem, todos em forma e fomos chamados para trocar as roupas para as roupas civis. Foi a nossa última formatura na tropa. 

Depois recebemos um diploma de Honra ao Mérito, como melhores soldados da corporação. Lembrança que guardo com zelo até hoje. Nosso gesto heróico: sermos bons soldados. Um encerramento brilhante.

Ainda, fui selecionado para fazer o curso de cabo, graduado. Mas, após pensar muito, acabei desistindo e optando pela vida acadêmica, que consegui alcançar no vestibular de 1992.

Dos tempos do quartel a lembrança dos colegas, das atividades e dos dias de sufoco. Mas, sobretudo a herança que carrego até hoje, as experiências aprendidas que são para a vida toda.

Selva!

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*Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas UFAM.

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