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31 DE MARÇO: 60 ANOS DO GOLPE DE ESTADO NO BRASIL

 



FOTO: M. BECHMAN.
AUTOR: CUCUNACA, 2024.

Por: Mauro Bechman*

Há exatos 60 anos, o Brasil entrava para retrocesso histórico e social. Nasci e cresci num país sob uma Ditadura Militar. Mesmo quando criança, estranhava ver na televisão em preto e branco, antes de qualquer atração, uma espécie de certificado que mais parecia com minha certidão de nascimento.

 Nas revistas e em algumas imagens da tevê, nas inaugurações públicas, sempre via homens velhos com óculos escuros, quepes e fardas militares. As ruas cheias de mato e quase sempre escuras no bairro da Praça 14 de Janeiro em Manaus. 

Na frente da vila onde morava, uma boca de fumo, onde a polícia militar sempre visitava e levava alguns maconheiros (que não nos faziam mal) mas, que nos davam muito medo. Alguns eram hipies. 

Na pequena escola Santa Luzia na Ramos Ferreira nenhuma professora tratava do assunto político do país, talvez a última professora da 4a série, Edna Castro, tenha tentado nos chamar a atenção com músicas de Oswaldo Montenegro. Em casa, meu irmão mais velho, falava timidamente sobre o que ele via e vivia. Polícia abordando os jovens sem camisa na rua e os muros da Universidade do Amazonas pichados com "Fora generais" ou ainda "Legalidade ao Partidão" em referência ao Partido Comunista do Brasil (PC do B) na clandestinidade. 

Minha alegria era as festas juninas e o Oratório São Domingos Sávio. Meus pais, na presença de militares sempre foram muito comedidos e parece que para disfarçar ele dizia: Os meus filhos vão servir, um o Exército, outro a Marinha e outro a Aeronaútica. Íamos aos desfiles militares de 7 de Setembro com bandeirinha do Brasil e cata-vento.

Após os 15 anos, o entendimento foi melhorando. Lia revistas e assistia aos jornais. Assim, fomos compreendendo o mundo em que vivíamos. A luta dos meus pais para criar os oito filhos de forma honrada em meio a precaridade que era nosso mundo. A perda da minha irmã para uma pneumonia ainda criança, foram os contatos chocantes com a realidade da vida. 

Minha mãe, entrava na casa das vizinhas para impedir que os maridos bêbados batessem nelas diante das crianças onde ás vezes, algumas fugiam para nossa casa. Marcas de uma brutalidade que era só reflexo por toda parte.

Depois de um tempo vi que as certidões na tevê eram a "Censura"  nas produções artísticas e culturais e que os Homens de óculos escuros e quepes eram a plutocracia que mandava e desmandava no Brasil.

Bem, hoje é o dia de fazer memória disso.

Viva a Democracia!


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*Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas (1909).

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