O ESTADO DO MUNDO I

FOTO: LIVROS EM DESORDEM. AUTOR: CUCUNACA, 2014.
Neste texto, buscarei pontuar alguns aspectos da atividade profissional do Geógrafo e sua relevância para a construção de um mundo melhor. Num segundo momento, procurarei como um observador do cenário internacional nas multi-faces que ora se apresenta a partir de uma escrita clássica do pensamento geográfico. Para realizar esta empreita chamarei este post de Trabalho do Geógrafo em homenagem ao mês do Geógrafo que teve inicio neste 1 de Maio.

A "NOVA ROMA" E A NOVÍSSIMA AMÉRICA LATINA

A Ascensão dos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) elevou seu papel de ator no cenário geográfico. Desde a política da "América para os americanos", os Estados Unidos buscou ver os demais estados nacionais do continente como apêndices do processo histórico.
No entanto, dois momentos foram importantes neste processo: inicialmente pode-se verificar que os Estados Unidos teve um papel de distanciamento da região até os primeiros dez anos da década de 1950. Marcado pela própria reorganização econômica e social européia e estadunidense no após-guerra. A necessidade do Capitalismo consolidar-se no continente americano fez com que houvesse intervenção política e econômica sobre estes países, o que se verificou na implantação de regimes autoritários em todo o continente com vistas ao asseguramento das instituições capitalistas ante a ameaça de revoluções populares para a implantação de regimes socialistas. O preço para a manutenção do capitalismo nos países como o Brasil, Argentina, Paraguai e outros, representou o enclausuramento da democracia e da organização da sociedade civil, sendo penosa até os dias atuais a idéia de democracia para as sociedades civis dos países latino-americanos.
Após a década perdida (1980) o subcontinente americano, mergulhou em regimes de abertura política e "distenção" controlada de governos autoritários para frágeis democracias neoliberais. Neste sentido, a década de 1990 com ascensão de governos populistas e neoliberais no continente, penalizaram a sociedade com a austeridade econômica e a contenção de gastos estatais, gerando desemprego e arrocho salarial.
O chamado pela "esquerda" de "Acordo de Washington" mostrava uma intencionalidade dos Estados Unidos em novamente voltar seu olhar para o subcontinente. Neste sentido, governos conservadores cedem espaço a governos com índole de centro-esquerda com a missão explicita de recuperar o desastre social causado pelas políticas neoliberais. O Brasil fez esta transição com a ascensão do Partido dos Trabalhadores (PT)ao poder sob a condição de renunciar aos preceitos fundamentais do socialismo clássico e silenciar a sociedade civil sob a imagem de um presidente de origem popular e de atuação política destacável junto aos movimentos sociais. Este processo desencadeia a ascensão de personalidades marcantes no cenário atual, como Hugo Chaves, Evo Morales e governos "mais" á esquerda no Uruguai, Chile e Equador. Peru e Colômbia ainda continuam sob forte influência do neoliberalismo tendo em vista a história recente de repressão aos movimentos populares armados sob a forma de guerrilhas.
Neste cenário, a "Nova Roma" se repagina e volta novamente o olhar sobre "seu quintal". A ascensão de Daniel Ortega na Nicarágua e a atual manutenção do regime em Honduras que impede a ascensão de um governo popular mais próximo a orientação venezuelana e sob a observação do Brasil, colaboram para uma melhor atenção ao subcontinente, por parte dos Estados Unidos, com a implantação de bases militares na Colômbia - que teve de se explicar aos seus pares no continente, gerando desconfiança e um processo de "re-engraxamento dos coturnos" por parte dos países vizinhos.
Numa pseudo parceria entre Estados Unidos e Brasil no Haiti, o Brasil serve de "guarda pretoriana" alimentando a possibilidade de um assento no plano das nações unidas desejado desde o governo Fernando Henrique Cardoso.
A questão ambiental e indígena embasam um novo cenário quem os Estados Unidos propõe um novo momento para enfrentamento da ameaça real econômica chinesa também podendo ser usada para intervenções militares e econômicas em quaisquer partes do Mundo.

A QUESTÃO AMBIENTAL E A ORDEM MUNDIAL

"Agora todo mundo é verde, antes era apenas loucos os que defendiam estas questões... os geógrafos, biológos, geólogos, indígenas, hipies, camponeses e outras comunidades excluídas do processo civilizatório ocidental capitalista.".

A chamada questão ambiental, claramente remove as fronteiras entre os países. Neste sentido, as ações, soluções e discussões devem ser de efetivadas de forma conjunta. A Amazônia é novamente o tema do dia. O Mercado do Carbono mostrasse a nova vertente para um neoliberalismo verde em que ações, atitudes e recursos são moedas no plano internacional. Até o governo do Amazonas absorve o discurso verde para viabilizar suas ações de implantação de infra-estrutura para o estado, embora ações verdadeiramente ambientais, não cheguem nem perto da idéia de sustentabilidade ambiental e da visão de um planejador. Seu discurso é geográfico e para desmistificá-lo somente um discurso geográfico. Aliás, este é um dos papéis do Geógrafo: Revelar as "ideologias geográficas".
O empresariado brasileiro, herdeiro da síndrome da "Casa-senzala", ainda não percebeu claramente que a questão verde está ligada a manutenção do capitalismo no planeta e que ainda reverte suas ações apenas pontuais e simbólicas, não havendo um efetivo esforço para o enfrentamento da questão ambiental.
As "Guerras da Água" estão em andamento nos países abandonados pelo capitalismo na África e o substrato da falta da água em cerca de 40 países. Fala-se em Furto de Água no Amazonas por navios estrangeiros. E o monopólio de empresas deste setor em que água se torna seu principal insumo colaboram para um cenário de escassez da água e ou pouca atenção quanto à resolução da questão da água nas cidades amazônicas.
Da mesma forma, a questão dos refugiados das mudanças climáticas com o avanço das áreas em desertificação pelo mundo. São expressões de uma crise ambiental que não obedece fronteiras.
A necessidade de troca das matrizes energéticas para matrizes mais sustentáveis e limpas passa por interesses privados e coletivos que entram em choque revelando o velho antagonismo sociedade x natureza.
No plano Geopolítico, as questões ditas ambientais, são em si, questões geográficas cujo o olhar do geógrafo se faz necessário para a reflexão do homem sobre suas ações sobre o planeta e para que possamos evitar e superar grande parte dos males que nos afetam hoje.

Saudações Geográficas!

2 comentários:

  1. Entre 1980-2000,houve forte retração dos investimentos produtivos do capital internacional. Influenciados por bancos e agências,este se orienta para uma política preservacionista da região associada à emergência da questão ambiental.
    Tal orientação está associada a nova geopolítica mundial. Que como vista não visa a apropriação direta dos territórios, mas sim o poder de influir na decisão dos Estados sobre seu uso e ao papel que a Amazônia assumiu nesse contexto.
    A virtualidade de fluxos e redes transfronteiras que sustentam a riqueza circulante, financeira e informacional, não significa a dissolução do espaço geográfico e do valor estratégico da riqueza. A reavaliação e a valorização da natureza é condicionada por novas tecnologias. Ex.é caso da natureza como fonte de informação para a biotecnologia, apoiada na decodificação, leitura e instrumentalização da biodiversidade. Mas também é o caso da possibilidade teórica ainda não solucionada. Dessa forma observa-se a natureza como capital de realização atual ou futura e como fonte de poder para aciência contemporânea.

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  2. Oi Edi! Muito bom. Sua análise de conjuntura é perfeita. Penso que a dificuldade atual é manter esta soberania sobre o conhecimento científico e a natureza.

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