FOTO: BATERIA "BERÇO DO SAMBA"GRES VITÓRIA-RÉGIA. MANAUS/AM. AUTOR: CUCUNAÇA, 2016 |
VITÓRIA-RÉGIA, MINHA FLOR MINHA PAIXÃO
Desde de criança, nascido e crescido na Praça 14 de Janeiro - um bairro de origem negra na cidade de Manaus, aprendi a amar o samba a partir daquela escola de samba feita por negros e negras orgulhosas de sua cor, moradores de um bairro boêmio e como dizia com sabedoria um locutor da rádio Difusora do Amazonas "Bairro do Samba e do Amor".
Quando as passeatas da magnifica bateria verde-rosa passava pelas ruas do bairro, não haveria quem contivesse a paixão e o meu jovem coração tornava-se em cores verde e rosa, um apaixonado pelo carnaval e pelo bairro de negros.
Trabalhadores das mais distintas profissões uniram-se em torno da Escola da Praça 14 e faziam desta uma grande kizomba. No carnaval de 1983, a escola estava aprontando seus carros alegóricos em plena rua Jonathas Pedrosa e há poucos instantes do desfile na Avenida João Alfredo, atual Djalma Batista, os operários acabavam seus trabalhos e numa das alegorias faltou cola para finalizar o carro. Como criança vi aqueles negros lamentando que não tinha mais cola e a desolação tomava conta de todos. Na minha inocência, fui até o meu pai Avelino Beckman, que sempre mantinha uma oficina de marcenaria e mesmo como medo - pois nessa época, respeitávamos mesmo nossos pais - falei que a escola estava com problemas para "descer" a avenida e para minha surpresa, meu pai colocou duas latas de cola em inhas mãos para levar para serem terminados os carros. Ao entregar as latas, uma vibração tomou conta dos operários e os trabalhos puderam ser finalizados e eu fiquei muito feliz e aquela imagem de desoloção superada por uma euforia, nunca apagarei da minha memória.
Não poderia de esquecer aquele batuque ritimado e frenático que tomava de assalto meu corpo e minha alma, numa alegria que representava a vida e mostrava a vida passar, diante de meus olhos e minha alegria incontida numa canção imortal cujos versos conduziam o cordão dos batuqueiros numa alucinante multidão de sambistas e moradores que entoavam pelas ruas:
"Acorda minha gente tá na hora
Da Alegria se espalhar
O meu coração está todo prosa
De verde-rosa na avenida a desfilar
Vitória-Régia não é brincaderia
Saia da frente que vai levantar poeira
A nossa bateria é tradição
Batendo forte conquistando os corações
Bate, bate forte batuqueiro
Que o Samba na 14 é de janeiro a janeiro".
Gravado por Paulo Onça.
Aí meus amigos, com este samba de concentração, não há quem fique sentado e ainda hoje quando ele toca na avenida (sambódromo agora) o meu coração palpita mais intensamente e aí nem sempre consigo conter a emoção que vem dos meus tempos de criança.
Acompanho o carnaval de Manaus desde 1979 e a cada dia vejo que a magia dos carnavais ainda mexe comigo. Fui ao ensaio técnico da Vitória-Régia este ano e na tempestade que caiu na cidade de Manaus, vi mais uma vez o povo cantar o samba exaltação em meio a chuva forte, minha escola mostrou porque é digna de minha torcida, de minha alegria e de minha fidelidade.
É impagável ficar na concentração e se emocionar com a entrada da minha verde-rosa da Praça 14 de janeiro, ver adultos disputando vagas sobre os suportes de som, numa alegria que só o carnaval e a bateria da Vitória-Régia poderia fazer.
Saudações Carnavalescas e verde e rosa!
1 Comentários
Parabens pelo post Professor, realmente esse samba da "14" deixa qualquer um euforico, agora penso que o garoto que contribuiu outrora conseguindo as latas de cola poderia deixar outra marca, que tal propor um enredo? que tal compor um samba?
ResponderExcluirLembrei do meu primeiro carnaval na Djalma Batista quando a Verde e Rosa cantou:
Nem verde, nem rosa
Nem la, nem ca
Sou verde de esperanca, sou rosa de crianca
Eu sou a Vitoria Regia a brilhar, brilhar