CARNAVAL NAS RUAS DE MANAUS: BÊBADOS E MISERÁVEIS DA MEMÓRIA

FOTO: GRES. SEM COMPROMISSO. 2015.

Na sexta-feira, 13 de Fevereiro, véspera do desfile das Escolas de Samba de Manaus no sambódromo, encontrava-me caminhando acometido de uma forte virose sob a noite com vento frio e o frisson que antecedia o desfile das grandes escolas. No Centro histórico de Manaus, as coisas tem uma forte raiz. 

Caminhando pela rua Comendador Clementino na altura da Rua Japurá, minha memória sempre lúdica e lúcida me fazia companhia naquele instante de enfermidade. Diante dos meus olhos via a alegria contagiante dos bares cheios, com seus frequentadores e frequentadoras a celebrar a anarquia do carnaval ao som de marchinhas antigas como a da Kamélia e submerso num mar de vozes. 

Há poucos metros fui ao local de venda das fantasias da Gres Sem Compromisso, onde em grande movimentação vi muitos grupos de jovens, moças e rapazes, comprarem e levarem em seus carros, as fantasias para o desfile. Vi então, o quanto é simbólico e mágico, o lugar de fundação de uma escola de samba como a Sem Compromisso, cujos becos, estão costureiras, artesãos, comerciantes e moradores apaixonados pela escola do tucano preto e amarelo. Lembrei que estava num território sagrado e que, como torcedor apaixonado da Vitória-Régia da Praça 14 de Janeiro, jamais poderia deixar de respeitar. E, caminhando, minha memória me tornou criança e me fez voltar aos carnavais do passado, na mesma área do centro de Manaus, onde blocos de sujos, homens travestidos de mulheres, batuques frenéticos, bêbados e miseráveis celebravam a vida em sua intensidade insana, jogando uns nos outros e nos que se arriscavam a assistir o espetáculo, pó de arroz (arrozina e maizena) deixando a pessoa toda suja de branco...era uma diversão.

Nos baixos anos 1980, talvez 81-84, via com os olhos de menino, nas ruas da Jonathas Pedrosa, cordões de sujos e botecos com bêbados desmaiados e nos que se acotovelavam um forte odor de cachaça...talvez, daí tenha vindo daí minha aversão a caipirinha e á cachaça. Tudo muito simples e miserável.

Por um instante, pensei que estivesse revisitando aquele passado e de repente procurei os bêbados caídos pelas calçadas e sarjetas, miseráveis, no olhar do hoje e vi, apenas pobres, mas não miseráveis, não vi bêbados pelo chão. Talvez estivessem fantasiados de moças e rapazes brancos em seus carros, talvez, fossem apenas um fantasma dos antigos carnavais da minha memória. Voltei pra casa, meu corpo em febre e minha cabeça sob constipação para tomar uma medicação e acreditar que toda aquela situação já fazia parte apenas de uma doce e dura lembrança de fantasmas dos meus antigos carnavais e sonhar de novo e de novo.

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