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| FOTO: M. BECHMAN. CUCUNACA 2023. |
Por: Mauro Bechman*
Convocados pelas redes sociais...privadas
Há 10 anos, eclodiram passeatas em todo o Brasil. Brasileiros e brasileiras de todas as idades foram ás ruas do país, protestar com uma pauta totalmente aleatória que ia da internet 3G ao Não vai ter copa! A princípio chamamos de Revolução Hashtag, devido a rapidez das convocações, mas a literatura já havia cunhado de Revoluções Coloridas, aqueles movimentos sem uma "Bandeira de Luta" definida.
A mídia hegemônica como O Globo, Bandeirantes, Folha de São Paulo, O Estadão e os seus replicadores em nível local como a Rádio Difusora do Amazonas e outras emissoras menores tinham o discurso alinhado ao #vemprarua (usado na propaganda da Fiat e depois usado nas convocatórias para os protestos).
Grupos educacionais privados no Amazonas apoiaram abertamente as manifestações suspendendo inclusive as aulas para que seus alunos/clientes participassem das manifestações. Na sala dos professores, em algumas faculdades privadas, o horror do marcathismo do século 21 com o bônus do discurso de ódio ás instituições e classes populares.
Do vendedor de jornais de cruzamentos ao Jornalismo televisivo por assinatura, as narrativas eram as mesmas, claro que com linguagem adequada a cada público. Manter-se lúcido era o desafio. Lucidez era o espaço da utopia em que apenas poucos tinham uma leitura correta dos fatos, dentre eles, o extinto Conversa Afiada com o falecido jornalista Paulo Henrique Amorim, o Diário da Causa Operária, jornal do PCO (Partido da Causa Operária), o JGGN, o Viomundo com Azenha, o Tijolaço e outros canais alternativos à grande mídia hegemônica.
Aos poucos, o Mapa foi sendo montado. Os objetivos foram aparecendo claramente até a sua plenitude, da queda do Governo de coalizão (PT/PMDB) e ascensão da Extrema Direita no país, passando pela prisão de Lula e o Impeachment de Dilma Rousseff. O desmonte do Estado brasileiro, com ataques a Engenharia nacional e ao Petróleo. Nesse processo todo, muitas marcas ficaram na sociedade brasileira que passou a flertar com o autoritarismo novamente. Famílias se dividiam por questões políticas e politiqueiras. Todos tinham uma Opinião, mesmo que não tivessem sequer leitura saudável dos fatos.
O Brasil foi laboratório para as ideias de como derrubar uma democracia liberal "por dentro". Grande ingerência externa em todos os níveis. Foram tempos difíceis para os democratas, mesmo os liberais.
Ao mesmo tempo que os fatos iam se concretizando, particularmente íamos nos conservando sóbrios enquanto uma parte generosa de pessoas se escandalizava com o cenário. Era ruim ver pessoas boas ficarem assustadas com o desenrolar dos fatos.
E lá se vai uma década. Perdi a admiração por pessoas que acreditava ser inteligentes e admiradores até boa gente se afastaram. O mais importante conseguimos manter: a Lucidez.
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*Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas (1909).
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