CONTO: UM ANARQUISTA NO CARNAVAL


Foto: Multidão nas Ruas. Autor: Geóg. M. Bechman, 2012.

Aconteceu em 29 de Maio 1933 numa pequena cidade incrustada na Selva Amazônica, no Brasil, em que dois jovens revolucionários foram infiltrados pelo Movimento Operário Internacional - MOI para viabilizar a Revolução Operária Internacional em que as classes operárias chegariam triunfalmente ao poder, reeditando a História da civilização.

O primeiro a chegar de "Bajera" via rio Maranhõn, foi Gustave der Montes, militante comunista belga, poeta, andarilho e marcador de ciranda. Ao desembarcar no Ródo na cidade de nome indígena Manaós, Gustave matriculou-se no curso de História da Universidade do Maranhõn, primeira instituição de ensino superior do Brasil, sendo um aluno aplicado e camarada fiel ás lides e manuais doutrinários do Partido Comunista Belga. Morando no apertado bairro dos Tócos, foi se familiarizando com aquela cidade doce e dura em excesso e com um povo cuja constituição étnica assemelhava-se aos japoneses e que possuíam hábitos estranhos á sua cultura como tomar "Tacacá" ou ainda comer fatias de melancia nas ruas - um verdadeiro escândalo aos olhos de um europeu ateu e anti-capitalista.

Com duas semanas de atraso após a chegada de Gustave, chegou á cidade dos Manaós, o segundo membro encaminhado pelo MOI para viabilizar a utopia do Partido Belga. Tratava-se do jovem T. Rex de Almeida, anarquista estadunidense, exímio atirador, tocador de charango e viciado em política. Alojou-se na periferia da cidade, num bairro  chamado Praça Portugal. Matriculou-se em Geografia na mesma Universidade de Gustave, onde sempre estava entre os melhores alunos do curso ganhando prêmios em eventos científicos de sua área do conhecimento e frequentando cafés filosóficos e bares sujos do mundo suburbano intelectual da cidade.

O encontro entre os dois revolucionários se deu precisamente ás 22h03mn do dia 15 de junho de 1933 num barzinho nas imediações da Rua Emílio Moreira no centro de Manaós. Nesta noite, os dois abriram o baú que Gustave trouxe da Valônia com as orientações e equipamentos necessários á empreita revolucionária. Leram atentamente os manuais, fumaram duas caixas de cigarro barato - comprados a retalho e arquitetaram o plano que mudaria para sempre suas vidas.

Estrategistas, os dois passaram a panfletar por toda a Universidade convocando a todos os estudantes, jovens, adultos, mulheres e populações marginalizadas pelo modo de produção capitalistas a juntarem-se a eles e construírem uma nova sociedade...O ponto de encontro da deflagação do movimento seria o cruzamento das ruas Ajuricaba com a Carvalho Leal em frente ao Cinema Ypiranga, exatamente ás 18h do dia 09 de Fevereiro de 1934 em todas as forças populares estariam reunidas para derrubada do sistema capitalista.

Seguindo doutrinariamente as orientações dos manuais comunistas, os dois jovens revolucionários transvestiram-se de disfarces exóticos que os escondessem no meio da multidão e pudessem insulflar o povo á revolta e conclamar a tomada de poder.

Na hora, local e data marcadas, os jovens revolucionários entusiasmados com a possibilidade de passarem para a História, chegaram com seus disfarces e em meio a uma grande balbúrdia e euforia popular, ficaram pasmificados, não compreendendo o porquê de tanta alegria popular. Uma multidão cantava com alegria e bebidas, transvestidos de diferentes personagens ao som de uma banda de metais em ritmos alucinantes e estimulantes. Os dois foram abraçados pela multidão que os celebrava como deuses e mesmo sem saber ao certo o que comemoravam, chegaram a imaginar que a vitória sobre o Capitalismo já havia ocorrido e por esta razão a multidão comemorava nas ruas.

Os dois revolucionários beberam, dançavam e beijavam todas as mulheres que no meio da multidão estavam sem se importarem com o amanhã... 13 de fevereiro de 1934

Mas...o amanhã chegou. Era quarta-feira, 13 de fevereiro de 1934 e os dois candidatos a heróis, começaram a despertar com o barulho das carroças e o calor da manhã ensolarada. Desorientados pelo "porre" que tomaram na comemoração do dia anterior, pediram informação a um funcionário público que limpava a rua no momento. O servidor público informou que na noite anterior, havia ocorrido uma das festas mais importantes do país e que todos comemoram frenética e simultaneamente. Abismados, os jovens demoram, mas passaram a crer que aquela festa toda não era pela Revolução Internacional, mas sim, porque era Carnaval e foi duro acreditar que eles, no meio da multidão, representavam apenas: o Diabo, disfarce de Gustave e o Árabe, disfarce de T. Trex de Almeida...

Desiludidos, os dois jovens revolucionários...passaram a chorar e a rir ao mesmo tempo e entre soluços e lamentações, perceberam que aquele seria o mais importante e belo instante de suas vidas...o seu primeiro carnaval!

Saudações Carnavalescas!

Um comentário: