A INVENÇÃO DA MEMÓRIA COLETIVA

FOTO: APARELHO DE TELEVISÃO. 1979. AUTOR: M. BECHMAN, 2014.
Ultimamente temos nos deparado com uma série de produções nacionais no campo da televisão e até em livros voltados a leituras e re-leituras dos eventos que marcaram a vida cotidiana do pais nas décadas finais do século 20.

Neste sentido, vemos um esforço das nossas elites que detém o poder da media utilizar-se disto largamente na geração de produtos que visem uma apreensão e consequente moldagem sobre o passado coletivo. Assim, a produção desta memória coletiva envolve os interesses de unificar valores padronizando lembranças de vivências sejam elas frutos de boas e ou más experiências no tempo, alimentando não apenas o saudosismo sempre presente na memória popular como também servir de elixir para o alimento dos anseios e esperanças, direcionados muitas vezes por necessidades temporais  e individuais, sejam, estas de indivíduos ou grupos sociais.

Os anos 1970 e começo de 1980 estão na media.  Grandes corporações já produzem essa reinvenção da memória coletiva a partir de produção cinematográfica e das teledramaturgias diárias.

As novelas focadas nos anos 1970 revelam um grau de alienação e despolitização, seja pelo fato de externalizar apenas fatos de um cotidiano mais banal e menos reflexivo, seja pela ausência da externalização de um cotidiano mais duro endossado por um cenário político mais delicado com a supressão das vontades democráticas. As classes subalternas  são pouco retratadas reforçando a opção política ideológica das produtoras, em certo sentido, destruindo o protagonismo do cotidiano coletivo das classes menos abastadas e alienando-as da consciência coletiva.

Assim, torna-se perigoso para a formação da historiografia e da memória nacional que apenas restritos grupos midiáticos forneçam elementos para a interpretação da memória coletiva, tendo em vista, apenas sua visão unilateral eivada de suas vontades politicas e ideológicas. É difícil acreditar que durante vasto tempo da vida os anos 1970 foi uma eterna discoteca! Altíssima inflação, pobreza urbana, arrocho salarial e possibilidades de crescimento econômico das classes mais pobres quase impossível.

No Amazonas particularmente em Manaus, ruas mau iluminadas, esburacadas, água de péssima qualidade e a classe media depauperada, quase não viajava. pois viajar era sim...em Manaus, para heróis ou bandidos! Mas, neste tempo difícil uma coisa nas telenovelas e revistas foi presença certa: o amor..ainda se morria de amor por alguém nesta década...ainda se vivia para o outro...isso é inegável e está cristalizado na memória dos homens e mulheres que viveram as décadas de 1970 e 1980.

A construção do senso comum se dá hoje em outros patamares mantendo o perfeito objetivo de ofuscar a reflexão sobre a produção do tempo histórico e do espaço geográfico. O final dos anos 1970 marcaram sobretudo, o incio de uma supremacia midiática da televisão sobre o rádio, os jornais e as revistas na produção e invenção da memória e do imaginário coletivos.

A televisão é um gigante que vai se mostrar em sua plenitude na década subsequente com poder politico capaz de dar "direção" ao país, e subverter o conteúdo presente na mente das pessoas, aliada a invasão cultural americana em todos os campos da vida social marginalizando a cultura das regiões brasileiras, fundadas há séculos desde a conquista deste território até o enlace das populações nativas com a cultura ocidental colonizadora.

Neste sentido, estamos diante de um processo de invenção da memória coletiva, promovida largamente pelas chamadas mídias eletrônicas, reinventando o passado e re-significando o futuro...ou seja, dando uma mensagem direta ao presente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário