Nesta última terça-feira, 26 visitamos a Casa das Artes, no centro Histórico de Manaus. Os trabalhos expostos versavam desde as famosas Histórias em Quadrinhos (HQs) com uma mostra de quadrinheiros manauaras e residentes na cidade passando pelo olhar especial dos Geógrafos sobre as paisagens amazônicas a partir da pintura e da fotografia, tendo ainda na quarta sala, o olhar sobre o desfile das escolas de samba de Manaus. Todos os olhares amazônicos e sobre as paisagens e momentos foram uma experiência distinta e instigante.
Na primeira câmara temos a energia e a comunicabilidade dos quadrinhos em histórias reais ou imaginárias – explosão do “criacionismo” urbano-psico-regional. A Amazônia como paisagem e seus personagens clássicos, metamorfoseados aos ícones globalitários, singelamente perceptíveis na conformação dos olhos já não tão amendoados dos indígenas e dos personagens e nativos do lugar discorrido no traço dos expositores. Euniquis, nos parece um representante deste tempo. A iconografia manauara presente na paisagem urbana e já naturalizada sobre o imaginário ocidental, o Teatro Amazonas, o cemitério São João Batista, o Mercado Adolpho Lisboa, rugosidades de uma urbe-indígena de 350 anos almagamados as distopias deste tempo de contra-modernidades. Ajuri é isso! Transcendente e onipresente nos traços e rabiscos dos cucunacas desta quase cidade do ocidente.
FOTO-MOSAICO: CONTEMPLAÇÕES DA AMAZÔNIA. AUTOR: G. MEDEIROS, 2019. |
Geografia e Arte. Ou, seria melhor, a Arte na Geografia? O retrato da paisagem em realismo e temperado às luzes do pincel sobre a tela, nos dão a sensação de um grito. Nas telas do geógrafo Marcos Castro, a resposta a Milton Santos e a Ab Saber: A geografia deve ser também uma forma de arte. Em todas as telas, o inconformismo exala mostrando-se na intensidade das cores dos objetos em primeiro plano. É o grito pela beleza na dança dos botos, a simplicidade do fazer amazônico, na torrefação da farinha de mandioca e na sua atmosfera que envolve a todos, ou a contemplação da paisagem da suas chamadas “falésias amazônicas” passando radicalmente a explosão em rubro e amarelo ardente que devora a floresta e o caboclo em dor e lamento. Castro, parece comprovar empiricamente Dardel que nos lembra que todo ser humano carrega em si uma Geografia. Obrigado Castro por nos partilhar a sua Geografia.
FOTO-MOSAICO: URBANO-RIBEIRINHOS. AUTORES: CUCUNACA/G. MEDEIROS, 2019. |
Na terceira câmara, Estevan Bartoli aponta sua câmera fotográfica na direção da paisagem amazônica, em cliques a beleza das cores e a dura solidez da vida urbana ainda por se integrar a uma identidade socioespacial com o ambiente dos rios. Um trabalho de Atlas! Entre barcos e estruturas amadeiradas e levemente mecanizadas coadunam-se pessoas. Gentes em meio a fadiga e o cosmopolitismo do empobrecimento social, nas ocupações subnormais, a arquitetura dos pobres às margens dos lagos e rios amazônicos. O Geógrafo registra, no seu eterno “trabalho de campo” a realidade que a teoria dos números em estatística apenas tintam os relatórios socioeconômicos. Parintins, a Ilha da fantasia, agora está despida. Nem azul e nem vermelho, apenas a lente da Geografia de Bartoli.
Na quarta câmara e última, diversos fotógrafos, capturam a alma do Desfile das Escolas de Samba de Manaus. Todas as paixões, todas as desilusões diluídas na Festa de Momo e Como. O belo e o inverso, o claro e o nebuloso nas imagens registradas em vivo movimento. Não há nada mais reto que ver e sentir o que é a energia carnavalesca, o frenesi do passista ou seria da passista? Veja mais atentamente para elucidar esta questão - em êxtase efêmero e o sorriso orgulhoso da “baiana”. É carnaval na cidade morena. Minha cidade.
Uma exposição amazônica em vários tons e cores, na companhia da minha amiga e competente colega Prof. Maria das Graças Medeiros, um café e um bom papo sobre utopias e distopias, e claro, sobre estas terras de cá. Vale a pena contemplar! A Casa das Artes fica na rua José Clemente 564 - Centro ao lado do Teatro Amazonas. As exposições irão até o dia 31.
Obrigado pela companhia e até!
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