FOTO: BALÉ FOLCLÓRICO DO AMAZONAS. AUTOR: CUCUNACA, 2017. |
Ao longo de uma existência as pessoas assumem viver determinados personagens e a partir deles partilham seus dias junto aos seus semelhantes e a natureza. Quando temos a possibilidade de observar com maior acuidade o cotidiano da vida passamos a "compreender" parcialmente como as pessoas e inclusive nós, somos compelidos a ver a vida a partir de um prisma alegórico, ou seja, fora da realidade. A literatura crítica chama isto de alienação, quando o indivíduo não compreende a totalidade de sua produção laboral e quando sua visão gera um certo desvio das condições objetivas da vida.
Sobre este aspecto, ao nos debruçar sobre algumas observações, pode-se constatar que algumas pessoas das gerações dos anos 1970 a 1990 passam a ver a vida e os seus acontecimentos como uma novela de televisão, com inicio, meio e final feliz. E, este simulacro da vida que é a telenovela, penetra no devir das pessoas, moldando comportamentos e conformando o imaginário, que já não é puramente o do indivíduo em sua particularidade. Assim, a visão de um enredo da existência também passa a misturar fantasia, ficção e realidade, claro, este último elemento em menor nitidez.
Desse modo, vemos e convivemos com pessoas que vêem a vida como uma novela, em que há vilões, vilãs, heroínas e galãs envolvidas em tramas que ocorrem a cada capítulo, sem danos á sua vida material e noção de existência. E, como num capítulo de novela, mesmo os que mostram os galãs e mocinhos passarem por dificuldades, há o ingrediente no imaginário de que o próximo capítulo será melhor e o final da novela será feliz com o galã casando-se com a donzela, a punição dos maus e a confraternização dos atores secundários no desfecho final do enredo. Esse modo de ver, chega a nós, por estes "faróis" que assim vêem a vida social, econômica, ambiental, política, artística. Neste estágio, parece que estamos contracenando no teatro da vida como "atores de novela" e não com atores sociais.
A exposição quase que total dessa geração a esta forma de mídia tem marcas importantes, a ponto de numa simples conversa informal com pessoas desta geração temos a impressão que estamos dialogando com atores e jornalistas dos telejornais exibidos entre as novelas.Um verdadeiro sofisma.
Noutro ponto, temos a geração do século XXI que se alimenta das multimídias e a elas rendem tributos. As séries das televisões por assinatura e as exibidas em canais via internet, vêem hoje assumindo o lugar das telenovelas nacionais. Claro, há diferenças profundas, porém em suas intencionalidades se colocam diante do mesmo objetivo e vem conseguindo tal qual sua antecessora, moldar a subjetividade coletiva.
Nas séries, os mitos se misturam aos místicos, coadunados ao mundo real, alienando fantasticamente a realidade objetiva da consciência do ser sobre si mesmo e sobre a realidade social, política, geográfica, ambiental e suas outras dimensões, diluindo a tradição humanista e incluindo uma leitura disforme e paralela á realidade dada. Neste instante, o que vale é a opinião banal pretensamente independente, mas em verdade, extremista e totalitária, envolta num relativismo distópico sem coletivo onde reina a imagem e o atomismo do indivíduo.
Desse modo, esta geração vem construindo seu espaço geográfico ou negando-se a construí-lo. E é neste sentido e cenário que se faz cada vez mais importante a presença do mestre e da mestra, da educação enquanto processo de construção da humanidade em seus sentido mais intenso, visto que, cada vez mais pouquíssimas almas, sabem hoje que a vida não é telenovela e muito menos uma série de tevê por assinatura.
0 Comentários