FOTO: ÍCONES. AUTOR: CUCUNACA, 2015. |
A vida de todo o profissional se depara eternamente situações inusitadas e que geram certo desconforto. Ás vezes, gera-se uma confusão entre os campos profissional e pessoal, às vezes intencional e às vezes involuntária. Uma destas muitas confusões está muito assentada no imaginário das pessoas. Numa relação entre as pessoas, dadas as suas proximidades afetivas ou situacionais, sejam elas profissionais ou circunstanciais, em muitas ocasiões na fronteira entre o profissional e o pessoal confundem-se ambos, numa mistura de afetividade e racionalidade. Lamentavelmente, o espaço do profissional se vê negligenciado pela outra pessoa com quem mantem-se algum tipo de relação muitas vezes dadas as situações de proximidade histórica, pessoal ou afetiva.
Em alguns momentos, nossos amigos ou amigas - até os de longa data -, findam, por afetivamente e cremos nós, de forma até inocente, negar a nossa competência profissional e até racionalidade objetiva, lógica e científica em temas, assuntos e contextos diretamente relacionados a nossa formação profissional. Em algumas ocasiões, estes "deslizes"transformam-se em provas irrefutáveis a serviço de nossa condenação por posicionamentos e atitudes assumidas por nós diante de alguns grandes temas da vida, das nossas e diante dos muitos temas que permeiam nosso cotidiano, sejam eles políticos, geográficos, sociais, ambientais, artísticos e literários. Nesse momento, parece que o fato de se ter uma maior proximidade pessoal, o espaço do profissional é suprimido pelo nosso interlocutor. Muitas vezes, estes eventos dependendo das circunstâncias e da capacidade de compreensão sobre a fronteira entre os espaços do profissional e o lugar do pessoal, conduzem a uma ruptura das relações interpessoais quando não estabelece um distanciamento sem data prevista para seu restabelecimento.
Resguardar a voz ao espaço do profissional é na verdade uma prova de amor de quem buscar no outro não apenas a confirmação de visão de mundo, mas também o seu contraditório possível. Também e claro, usar intencionalmente ou não, a afetividade construída ao longo de algum tempo de convivência profissional ou pessoal para impor um modo de ver as coisas da vida e do mundo, não autoriza a ninguém, nem mesmo aos amigos e amigas mais próximas, a não reconhecer a autoridade profissional sobre os temas e contextos atuais da vida em que houve todo um empenho na construção de uma carreira profissional.
Afinal, as ciências humanas e em especial a Geografia, não podem ser medidas pelo reducionismo totalitário de que representa apenas uma "questão de opinião". Atentar ao espaço do profissional é sim, uma bela forma de manutenção sagrada do lugar do espaço pessoal na vida das pessoas que partilham a experiência da existência coletiva e afetiva. Assim sendo, sobre temas históricos, nada melhor e mais capacitado que um historiador ou historiadora, da mesma forma que em temas geográficos, melhor mesmo deixar e respeitar o posicionamento ou consultoria de um geógrafo o professora de Geografia. Ora, nada mais sensato e honesto, afinal não podemos esquecer que ás vezes, os nossos melhores amigos e amigas, são também respeitáveis profissionais e porquê não, os melhores especialistas em suas áreas de conhecimento. Quando conseguimos equacionar de forma perfeita a relação entre o espaço do profissional e o lugar do pessoal numa relação entre pessoas é sinal positivo de que ainda temos a civilidade e a humanidade como elementos basilares de nossa busca pela felicidade tanto individual quanto compartilhada coletivamente.
4 Comentários
Muito bom texto para uma boa leitura.
ResponderExcluirAgradecidos aos amigos Paulo e Kaline. Afinal, respeitar a competência profissional do outro é também um ato de amor. Saudações!
ResponderExcluirÓtima reflexão, meu amigo!
ResponderExcluirMuito obrigada por compartilhar conosco suas observações e nos alertar para questões que, muitas vezes, na correria das atividades diárias, nos fogem da percepção.
Muito obrigada!
Abraços,
Professora Graça Medeiros
Boa tarde professora! Honrado pela sua presença nesse espaço. Seja sempre bem-vinda! Forte abraço e saudações geográficas!
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