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FOTO: PROF. ME. MAURO BECHMAN. AUTOR: CUCUNACA, 2021. |
Por: Mauro Bechman*
A formação da identidade do amazonense passa pela formação de uma classe dominante que se identifique com o lugar, região ou estado nacional, que se preocupe ou defenda uma causa coletiva, utilitária e geralmente consensual.
Na conformação do estado do Amazonas, temos dois momentos importantes, o primeiro desde sua origem como Comarca do Amazonas até a sua independência como província e num segundo, o ciclo da Borracha.
Na formação de sua elite encontrar-se-ão mais pessoas com pouco apreço pelas letras e pela ciência. São apegados ao comércio e irão enriquecer pela exploração da mão de obra cabocla e migrante tendo consequente acumulação de capital oriunda da economia gumifera.
Longe de qualquer arquétipo ou visão estereotipada que conduza a alguma ideologia geográfica, seja o bairrismo, regionalismo ou até xenofobia. É importante salientar o olhar da ciência geográfica sobre os eventos e a produção do espaço.
Muitos dos componentes desta classe são imigrantes e como uma classe dominante que vê apenas a região como natureza a ser dominada e explorada.
Este distanciamento do povo local também é refletida na literatura produzida por seus descendentes melhor letrados sobre o Estado e a região.
Enfatiza-se não o protagonismo dos habitantes do lugar, mas olhar do colonizador e tem a região apenas como pano de fundo de suas narrativas. Dessa forma, o Amazonas é o cenário e os protagonistas são, os viajantes, os forasteiros, os colonizadores, e assim, este lugar vem sendo caracterizado, não pelo que é, mas pelo que creditam a ele ser.
Com o enriquecimento desse grupo que se assentou no comércio, naturalmente apropriou-se da gestão do Estado, seja ele nas esferas municipal e estadual. Neste sentido, foram se consolidando as oligarquias e os sobrenomes que em nada tem filiação com o vocabulário nacional ou regional.
É uma classe dominante que nunca se identificou com os entes da região. Pregava o distanciamento dos caboclos por verem eles como inferiores, ligados ao estado de natureza, daí a baixíssima produção sobre a culinária, o folclore, as tradições, as artes e outros mais, preconceitos criados pela visão eurocêntrica especialmente presente na narrativa de viajantes como La Condamine (1735) que encontrou solo fértil para um processo colonizatório sobre a região e o estado do Amazonas.
Assim, vemos hoje isto. Temos uma classe dominante que usufrui do lugar, da mão-de-obra apropriando-se da mais valia dos trabalhadores e sempre que pode se distancia para o gozo de seus ganhos em outros lugares e até países onde os ares são outros e o clima também.
Na crise da pandemia, esta classe se mostrou pelas ruas e redes sociais privadas. Favorecida, protegida e acovardada, continua a usar o Estado em benefício próprio, privado, sonegando direitos às classes laboriosas do lugar.
De posse do Estado e dos meios de comunicação de massa, impõe e justifica sua dominação e seu usufruto dos bens públicos, como o acesso ás vacinas imunizantes.
Assim, a vida segue no Amazonas. Essa tem sido a normalidade. Ela não se envergonha com que acontece com o povo do lugar que gera a sua riqueza, pois ela nunca se identificou com o povo. Por isso, descaradamente sua hipocrisia desfila nua pelas ruas em Lockdown da 6a economia do Brasil.
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*Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas.UFAM.
2 Comentários
E assim a vida segue no Amazonas... até quando, Mauro?
ResponderExcluirSerá que um dia isso vai deixar ser o "normal"?
Tenho cá minhas dúvidas, meu caro amigo.
O que ainda é preciso acontecer para que o povo nascido e criado aqui, bem como os que aqui fazem sua morada, possam revestir-se da força dos Manaós e construir uma nova história?
Sim. Essa normalidade perturbadora. Que o tempo se abrevie. Estamos precisando respirar. Não podemos renunciar a mudança. Não temos essa opção. Saudações e agradecido por seu comentário humano e lúcido.
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