Foto: Boi Manaus, 2009 - Autor: Geóg. M. Bechman
Cresci vendo e brincando de boi na cidade de Manaus, nos fins dos anos 1970 e 1980 em que os festejos juninos eram realmente empolgantes num período de muita festa e tradição. Desse modo, aprendi que os destaques do boi, eram seus brincantes e seu auto.
Diferentemente mesmo dos bois de Parintins, os bois de Manaus, possuem quase tudo diferentes. No boi de Manaus, o ritmo é acelerado e único, como um batuque que diferencia inclusive a apresentação de cada um dos grupos folclóricos. Também a dança e a indumentária são completamente diferentes. O boi de Manaus é o boi de rua que ao passar por cada lugar mexia com o coração de crianças e idosos. Brinquei no Garrote Malhado da Praça 14 de Janeiro, uma tradição iniciada pelos meus irmãos e seguida por mim. Dançar no boi de Manaus, significava dominar uma técnica e uma arte que nem todos tinham habilidade para desenvolver.
Dos bois grandes, guardo em minha lembrança, as imagens do Bumbá Tira-Prosa do bairro do Educandos, do Corre-Campo de São Francisco e do Bumbá Gitano da Vila Mamão. A maravilha das fantasias de rapazes, vaqueiros e de índios, enchia os olhos com suas apresentações irretocáveis na Bola da Suframa (atual Centro Cultural Povos da Amazônia). O Corre-campo iniciou um processo de mudança na metade dos anos 1980 com a introdução do "boi" fabricado aos moldes de Parintins em detrimento ao boi de pelúcia produzido por artesãos manauaras. Neste período, o boi de Parintins não era nem conhecido em Manaus, sendo observado em suas apresentações - quando foi convidado - na Bola da Suframa como brincadeira exótica.
A falta de consenso entre os dirigentes dos agremiações folclóricas a respeito de algumas decisões sobre o festival folclórico do Amazonas, o despreparo das secretarias de cultura de várias gestões e o desapego das elites amazonenses do folclore manaura, permitiram que houvesse uma expansão do belíssimo espetáculo de Parintins, conduzindo os bois de Manaus ao esquecimento da grande mídia e do foco das pesquisas sobre folclore reforçado pelo avanço da urbanização da cidade de Manaus.
Penso que os manauaras pederam a grande chance em mostrar uma identidade realmente diferente do folguedo parintinense em forma e conteúdo, seja pela originalidade, seja como, elemento da identidade cultural dos manauaras. Também, ver os bois de Manaus, no formato parintinense, empobrece a rica história da cultura da Amazônia que vem sucumbindo diante da necessidade da cultura ser transformada em produto cultural, como mercadoria, cujo siginificado e sentido, se perdem no tempo e no espaço.
Por hora, brincaremos de Boi, em Parintins optei pelo Bumbá Garantido, que pela paixão e proximidade com os bois de Manaus, conquistou o meu coração amazonense e amazônico. Vamos brincar de Boi tá Garantido!
Saudações Amazonenses e Amazônicas!
Geógrafo. Mauro Bechman, MSc.
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