Header Ads Widget

header ads

ABANDONADOS NA CIDADE



Neste dia 23, precisamente ás 21h tomamos conhecimento por meio das redes sociais que os motoristas e cobradores de ônibus de Manaus fariam uma paralisação total da frota, tendo em vista o incendiamento de dois coletivos na Cidade Nova e um na zona leste da cidade.

Encontrava-me na Avenida Djalma Batista no bairro da Chapada, onde leciono em uma faculdade da rede privada. Chegando à sala de aula, alguns acadêmicos já estão avisados e há um clima de indefinição no ambiente. Conduzo a aula, enquanto alguns deixam a sala de aula com o temor da falta de transporte e peço ao representante ir até a coordenação de ensino para saber qual procedimento a seguir. Após cerca de 30 minutos, um dos funcionários chega na sala e informa a liberação das turmas, o que automaticamente ocorre.

Em meio a saída da faculdade vamos pela avenida Djalma Batista, onde há enorme engarrafamento entre carros particulares e micro ônibus nas paradas e uma multidão de pessoas no aguardo dos ônibus que não chegam. Esperando um táxi, acabo de embarcar num micro ônibus que aos poucos vai lotando. Na expressão dos rostos e sons do ambiente, tensão entre jovens universitários e no rádio do veículo em seus programas, locutores tentam manter a calma da população e atualizam informações.

Chego em casa mais cedo que o habitual, acompanho os noticiários e a gigantesca "onde de boatarias"das redes sociais. E de um dos grupos de uma rede social, vejo uma postagem que me entristece. A foto é de estudantes secundaristas da Escola Estadual Sólon de Lucena na avenida Constantino Nery, uma das escolas públicas mais conhecidas do Amazonas. Os estudantes praticamente fecham a rua e reivindicam transporte para voltarem para casa. Ao mesmo tempo,há situações similares no centro histórico com a interdição do trecho entre Getúlio Vargas e Leonardo Malcher com a ação de universitários de uma universidade particular que não tinham transporte para voltar para suas residências.

De repente, me veio em lembranças as vezes em que meus pais se preocupavam comigo e com meus irmãos e irmãs na volta da escola e do trabalho para casa. Quantas noites mal dormidas ou não dormidas. Ontem, me pus no lugar destes pais e mães e também, no lugar destes jovens que na maior parte das vezes tem apenas a passagem de ônibus no bolso. Sem a perspectiva de uma educação que forme cidadãos plenos, já nascem do abandono intelectual pela ausência de uma política nacional de educação promovida por uma classe dominante anti-coletivista e racista. Certamente desesperador.

No campo político partidário,em tempos de exceção democrática nacional, a Prefeitura "joga a culpa" para o governo do estado que "joga a culpa" para a prefeitura. No meio, duas vitimas, os trabalhadores e suas rotinas massacrantes e os estudantes em suas esperanças e utopias de uma vida melhor. Não há preocupações de Estado, mas apenas vaidades dos governantes que foram eleitos num processo em que o país estava e ainda está afundado numa novelização da vida com a judicialização, midiatização e a crescente militarização do cotidiano.

Rezei ontem, pelos estudantes e trabalhadores que ficaram sem transporte e por aqueles também que lutam por seus direitos. Desejo que os homens e mulheres que dirigem o Estado não confundam o dever de servidor público com o prazer hedonista do exercício de suas vaidades.

Ainda não é a História, mas apenas um "mau estar" da modernidade.

Postar um comentário

0 Comentários