FOTO: BIBLIOTECA DE GEOGRAFIA. AUTOR: CUCUNACA, 2016. |
Neste post, buscarei apontar alguns elementos e municiar o debate sobre o desafio de desenvolver a Amazônia, a partir da construção de profissionais de Geografia capazes de responder ás demandas de uma sociedade cada vez mais dinâmica na produção de seu espaço geográfico. Para tanto, inciaremos com notas sobre a atuação dos geógrafos e geógrafos-educadores nesta região tão inspiradora e provocante ao desafio da ciência e da cultura.
O PAPEL DO GEÓGRAFO NA AMAZÔNIA
A participação dos geógrafos na construção e representação do espaço amazônico tem sido importante do ponto de vista, da visão panorâmica da região e sua inserção nos estudos dos problemas brasileiros. Falamos em problemas brasileiros, pois um dos grandes desafios da elite do Brasil-sudeste foi de colonizar o imenso território amazônico, ainda pouco ocupado pela sociedade nacional. Esta visão partilhada por militares e intelectuais orgânicos desenvolvimentistas, marcou a agenda das ações para a região desde a década de sessenta do século passado.
Até 1978, a corporação dos geógrafos, ainda ligada ao Estado, passou a questionar suas ações, a ponto de parte sensível mover-se para uma militância mais política com foco voltado aos movimentos sociais que clamavam por mudanças políticas democratizantes no país. Eis aí o papel importante da Associação dos Geógrafos Brasileiros - AGB.
A implantação do curso de Geografia na Universidade do Amazonas por volta de 1980, gerou um importante passo na construção de uma representação da Amazônia a partir da formação de quadros profissionais inerentes á própria região. Um projeto pedagógico voltado á formação de geógrafos-educadores foi direcionado á inserção do curso no Instituto de Ciências Humanas e Letras, portando, mais focado na área das humanidades e, também pela sua necessidade de apoio junto á área da docência. A militância pela Geografia no Amazonas, fez surgir movimentos importantes para o desenvolvimento desta ciência na região com a criação da Associação de Geógrafos Brasileiros - AGB seção Manaus em 1982.
A construção de um projeto pedagógico para o curso de Geografia no Amazonas previu a formação de professores devido o desafio amazônico de suas distâncias e da necessidade de conhecimento de sua realidade socioamabiental. Tecnicamente, o equilibrio buscado sobre a formação da matriz curricular manteve-se fiel aos propósitos de vinculo a área das humanidades. Entretanto, a força da influência da Geografia humana no curso causou um certo desequilibrio em dado espaço de tempo, que fez com que houvesse um certo sobreamento das ações ligadas á Geografia física. A vertente ambiental já trazida á baila por organismos internacionais no inicio dos anos noventa do século XX, era apenas pontuada timidamente por estudantes e professores ligados á pesquisa. Limitações nas áreas de dificil cobertura como a Cartografia e o sensoriamento remoto, tornavam a área técnica uma fragilidade para a produção do saber geográfico sobre a região e por conseguinte, a formação dos futuros profissionais.
Decerto que, vários avanços foram sentidos com o estímulo á pesquisa de curta e média duração e a Geografia até então existente apenas na Universidade do Amazonas se oportunizou sabiamente e também retribuiu de maneira superlativa a este investimento, ganhado várias menções honrosas e ampliando a sua força na forma de publicações. Contudo, o desequilibrio entre as áreas da Geografia provocava um hiato na compreensão dos aspectos ambientais e consequentemente sua opção pela Amazônia que não fosse apenas cultural, mas também e essencialmente física-natural.
Em 2002 é implantado o Curso de Licenciatura em Geografia pelo Centro Universitário do Norte - Uninorte com a missão de atender ás demandas ligadas ao ensino e á pesquisa na região. Seu projeto pedagógico, possuía forte caráter técnico que se manifestava na formação de seus profissionais egressos que possuíam uma identidade com conteúdo sensível característica do bacharel em Geografia e não na própria missão da formação do licenciado.
Entretanto, a empregabilidade foi alcançada com sucesso no espaço de trabalho por estes profissionais egressos. Outra coisa, realmente importante na construção de sua matriz curricular, fora a opção pela Amazônia vislumbrada nas disciplinas ministradas ao longo do curso, numa visão contextualizada, global e regional da empresa geográfica. Esta opção identitária, findou por transformar-se numa marca do curso de Geografia do Uninorte.
Ao longo do tempo, mudanças na forma de ver e avaliar os cursos de graduação, o curso de Geografia promoveu alterações no seu projeto pedagógico, buscando corrigir distorções quanto á perspectiva das disciplinas ligadas á formação docente e á área das humanidades, cuja opção técnica viesse a ceder para o alcance do equilibrio com as disciplinas da área de humanas.
A concepção e a construção de um projeto pedagógico para a Geografia na Amazônia, perpassa importantes elementos, como o perfil do egresso que desejamos formar e apresentar á sociedade, as disciplinas elencadas e dispostas á responder aos desafios novos de cada momento histórico, a inserção regional na Amazônia para que os atores da produção deste espaço sejam cada vez mais filhos desta região, e, sobretudo, elementos como o empreendedorismo dos profissionais ligados á Geografia, sejam eles professores ou estudantes, sem esta paixão, sem esta energia e empenho ao que se faz, certamente a nossa Amazônia, continuará indecifrável como cita e nos provoca o pensador Djalma Batista.
Nas minhas poucas linhas, sugiro que a Geografia seja repensada tomando como referência, os novos desafios impostos como a necessidade da formação de profissionais críticos, mas também empreendedores, de humanistas mas também possuidores de conhecimento técnico atualizado, holísticos, porém capazes de especializar seu olhar sobre os pontos e redes geográficas, globais, mas sabedores que estamos na Amazônia e sobre ela devemos projetar nossos olhares e nossos sonhos de um espaço de esperança para cada homem e mulher deste espetáculo da natureza que vive a desafiar os futuros e presentes geógrafos e geógrafas.
Saudações Amazônicas!
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