FOTO: PROF. ME. MAURO BECHMAN. AUTOR: CUCUNACA, 2020. |
Por: Mauro Jeusy Vieira Bechman*
A alteração de nossas rotinas a partir da Pandemia em muito modificou os tempos e em mínimo sentido, o espaço das cidades.
A zona norte da cidade de Manaus é uma área de expansão urbana onde vários atores sociais se digladiam pela busca de espaço na cidade.
Ambientalmente, é a zona da cidade que mais expõe fragilidade socioambiental do geossistema urbano. Bairros planejados e bairros populares fazem parte da teia urbana em diferentes nuanças.
Ainda há uma presença de áreas verdes a sendo disputadas por grupos sociais excluídos e imobiliárias que se misturam a uma especulação imobiliária selvagem junto às classes populares depauperadas e pequeno grupos marginais.
O resultado de toda esta complexidade gera um avassalador processo de avanço de degradação da vida social com o aumento da violência urbana e o comprometimento dos espaços ainda micro-refúgios do que restam das florestas urbanas, especialmente as que ligam Manaus e sua região hinterlandina.
De 2017 aos dias de hoje, algo diferente ocorreu no ar da zona norte. O ar a partir das 16h principalmente nos meses de verão amazônico, era composto por fumaça vindo das residências que usam as folhas que caem das árvores dos quintais e das que não descartam seus resíduos domésticos junto aos serviços de coleta pública, mas usam da queima gerando uma sensação de sufocamento e calor quente insuportáveis quando realizadas ao mesmo tempo ofuscam o céu e ás vezes, o próprio Sol.
Durante a noite, noites quentes com a temperatura alta, mas também alterada com as queimadas urbanas em áreas de expansão e especulação eram sentidas em nosso olfato.
Durante a noite, noites quentes com a temperatura alta, mas também alterada com as queimadas urbanas em áreas de expansão e especulação eram sentidas em nosso olfato.
No mês de maio deste ano de 2020, talvez pelos dias 25 e 27 algo surpreendente nos ocorreu. Com o isolamento social, os espaços públicos como passeios e calçadas foram sendo recobertos pela vegetação e o silêncio das ruas e trajetos eram reinantes. No céu, o azul brilhante já era mais intenso durante o dia, fotografia magnífica da fauna aérea com a multidão de pássaros e seus cantos de divinos encantos. E, ao anoitecer, por volta das 20h, é possível sentir na pele o frescor da temperatura úmida e levemente fria.
Mas, dos nossos sentidos, o que mais nos surpreendeu naqueles dias, foi sem dúvida o olfato. Em meu pequeno quintal, minhas narinas são invadidas por um aroma que me leva à ancestralidade., a um tempo de uma serenidade lúcida, alegre, doce e de belas sensações. Era o "Cheiro de Mato", o cheiro da floresta que encanta a todo ser humano dotado da mais primitiva humanidade.
Por dois dias, aquele aroma me lembrou que estou na Amazônia, na casa dos meus avós, dos meus pais e parentes, matas, rios, igarapés, animais e mitos amazônicos, aliás, que como dizem os "antigos"aqui neste chão está enterrado o meu umbigo e a este lugar pertence a minha identidade.
Assim, olhando o céu estrelado e sentindo o aroma da criação, não há como não contemplar o Criador, e claro, lamentar pelo que os homens e mulheres organizados em sistemas sociais desprezíveis tornaram a criação.
Em mim, ficou o cheiro da saudade, saudade porquê talvez não aprendemos e nem aprenderemos com este período, discernir corretamente sobre o que fazer com os presentes que Deus nos dá. Com meus botões, fico a pensar se de fato, será bom voltar ao "Velho Normal" que me impediu de ver o céu, as estrelas, sentir, o vento, o silêncio, a orquestra dos pássaros e o cheiro de minha mãe, a mãe natureza.
Em mim, ficou o cheiro da saudade, saudade porquê talvez não aprendemos e nem aprenderemos com este período, discernir corretamente sobre o que fazer com os presentes que Deus nos dá. Com meus botões, fico a pensar se de fato, será bom voltar ao "Velho Normal" que me impediu de ver o céu, as estrelas, sentir, o vento, o silêncio, a orquestra dos pássaros e o cheiro de minha mãe, a mãe natureza.
Afinal, que normalidade queremos?
_____________
*Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia pela Universidade do Amazonas. UFAM. Professor Ensino Médio e Superior.
2 Comentários
Excelente texto professor. Realmente não tem nada que se compare com o privilégio de sentir todas as Boa sensações que a natureza nos proporciona.
ResponderExcluirAgradecido em honrado pela sua presença neste espaço. Vamos lutar por um Normal que nos faça mais sadios e felizes! Saudações socioambientais!
ResponderExcluir