FOTO: MANIFESTAÇÃO PÚBLICA. AUTOR: CUCUNACA, 2015. |
Um até breve ao Centro de Manaus
Hoje já não moro mais no Centro Histórico de Manaus. Prá lá deixei uma parte inseparável da minha vida. Acho que agora acabou.
Ali cada passo meu tem uma história para contar. E são muitas. Optarei pela primeira pessoa do singular. Acho mais sadio para falar de uma cidade como Manaus, uma metrópole.
Nas pedras do paralelepípedo português da Vila Dona Marciana, ficaram o cansaço, a luta e as esperanças em meio o temporal da chuva que me faz lembrar que estou na Amazônia e no meu amado Amazonas. Lá procurei viver intensamente, cada espaço e cadafalso. Em cada passo, um compasso marcado de história, a minha e a de outros sobreviventes da cidade. Pelas ruas, alguns poetas, barbudos, mendigos, pequenos assaltantes, saltimbancos dos cruzamentos, os bons operários, anarquistas, filósofos, comunistas, os sapateiros intelectuais, os reformadores de móveis cientistas sociais, com a nobreza dos aristocratas, os padres e o maravilhoso divino mundo da Igreja, também os salafrários parasitas do sistema político de castas e estamentos urbanos.
Lá ficaram os imigrantes americanos: os alegres colombianos, os altivos peruanos, os ciganos indígenas venezuelanos com suas vestimentas estonteantes em cores vivas, que penso eu, se acreditam de fato herdeiros da Terra, e os gigantes haitianos e seus chapelões com suas mulheres negras de rara beleza na dura vida de frutas e picolé da massa, elas e eles não se ajoelham. Os meus bons caboclos, com sua tez de sol, seu sorriso largo, operários da vida e ainda assim honrados. As doces caboclas, trabalhadoras, do sorriso de Yara e da fibra das amazonas de Gaspar de Carbajal. E eu, apenas Cucunaca.
Há política em toda parte no Centro, entre palavras e negócios. O protético ético, na bela missão de transmitir amor pelos gestos e pelas palavras, educar com todas as forças, o filho amado para entregar ao mundo e assim também a minha missão, como a do comerciante de coração grande, ou melhor dizendo, de um grande coração. Em tudo isso há um nobreza impressionável. Mas tu me perguntarias: E as praças históricas, a da Polícia? a da Saudade? a do Congresso? e o Largo de São Sebastião e a Praça da Matriz? Ah... elas ainda são do povo!
Cucunaca
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