IMAGEM: PROJETO DE LEI 282/95. AUTOR: CUCUNACA, 2018. |
O DIA DO NÃO AO PAGAMENTO DAS MENSALIDADES NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS
Em 1995, estudantes da Universidade do Amazonas (UA), atual UFAM (Universidade Federal do Amazonas) de diversos cursos fizeram um ato de repúdio diante da possibilidade de ser chancelado pelo Congresso Nacional Brasileiro, o pagamento de mensalidades. O Projeto 282 do Deputado Sr. Antonio Jorge, tinha em seu conteúdo, a cobrança de mensalidades para os acadêmicos das universidades públicas.
Um debate intenso na Universidade àquela altura tomava conta do R.U (Restaurante Universitário), dos centros acadêmicos e dos barzinhos de universitários. Na mistura de calor e desespero pela possibilidade de aprovação da proposta que jovens estudantes tomaram a iniciativa de fazer uma “Carta Aberta de Repúdio”, todos independentes de posições político-partidárias mas a elas alinhados pela necessidade e leitura de conjuntura. Participaram desta ação Eisner Francisco Cunha (Geologia), Eberth Cunha (Engenharia Elétrica), Renato Mendes Freitas (Engenharia Elétrica), Jackson Douglas (Geologia), Raimundo Pontes Filho (Ciências Sociais), Jannife Araújo (Estatística), Sérgio Reis (Educação Artística), Ronaldo Santos (Ciências Sociais) e Mauro Bechman (Geografia).
IMAGEM: CARTA ESTUDANTIL. AUTOR: CUCUNACA, 2018 |
O estudante de Geologia Eisner Francisco Cunha deu a idéia de uma carta pública. Então,na casa de seus pais, redigimos o documento imprimimos na impressora matricial do seu irmão Ebeth Cunha. Então, tínhamos como objetivo distribuir a carta na forma de “panfletagem”. O problema era que nós, estudantes filhos de trabalhadores, não dispúnhamos de recursos financeiros suficientes para fazer fotocópias. Foi então que o Eisner falou ao seu pai do que se tratava o documento. Seu pai, achou isso gravíssimo, um verdadeiro absurdo e decidiu livremente dar “uns trocados” para reproduzirmos as fotocópias.
Então, de posse das cartas, decidimos colocar onde pessoas instruídas pudessem ler e tomar ciência do que estava ocorrendo. Fomos ao jornaleiro da esquina da Igreja de São José Operário, hoje o Santuário de São José que este ano completa 70 anos, e ao conversarmos com ele, ele permitiu que colocássemos no meio das páginas dos exemplares. Um gesto impressionante, tomado por um homem simples e de certa idade, além da vontade militante do estudante de engenharia elétrica Eberth Cunha que colocou um a um as cartas nos exemplares.
Foram tempos de luta. Sem organizações e associações formais, jovens estudantes universitários tomaram a iniciativa, democratas e livre-pensadores.
Encontrei esses documentos, na minha mudança de casa.
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Dedico esta postagem aqueles estudantes pobres e lindos de coração. E, ao senhor Cunha, o patriarca de uma família digna de Coari, que durante os anos difíceis da ditadura empresarial-militar de 1964 preservou-se um homem íntegro e sobretudo cidadão mesmo sobre as pressões do regime autoritário no seu emprego nos correios.
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