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QUEM TEM MEDO DO LOCKDOWN?


FOTO: TEATRO AMAZONAS.
 AUTOR: CUCUNACA, 2019.
Por:Mauo Jeusy Vieira Bechman*

Em plena Pandemia, a Metrópole da Amazônia, exita em adotar medidas preventivas mais restritivas para conter a ferocidade do Coronavírus. Manaus, uma das primeiras cidades do Brasil a sofrer o pico das infecções por Covid-19 é desde a época da Borracha um espaço geográfico cosmopolitizado. No período de 1848 a 1920 se tinha uma diversificada teia de imigrantes e migrantes integrados ao espaço dos manauaras. Presença inglesa, francesa e portuguesa na arquitetura da cidade e uma classe dominante pouco letrada mas enriquecida com a exploração dos seringais, desterritorialização indígena e exploração intensa do proletariado urbano onde vicejava movimentos de lutas sociais lideradas por associações anarquistas que dominavam uma parte dos sindicatos. Lugar de grande concentração de pessoas do mundo atraídos pela borracha revelava a verdadeira face de Manaus.

Após a queda da economia da Borracha a partir de 1910 e a Crise de 1929, afrouxaram-se as correntes de opressão dos seringais e a vida urbana em decadência via a calma e o doce cotidiano provinciano se instalar. Manaus, perdia a preponderância urbana e regional.

No plano nacional com a derrubada do Governo de João Goulart (1961-1964) via Golpe de Estado com o consórcio civil e militar com apoio externo, a implantação do Modelo de Desenvolvimento Zona Franca em 1967 a cidade volta a ter atenção do Modo de Produção Capitalista. Filiais das empresas multinacionais com o cenário político do país favorável começam a se instalar no Distrito Industrial de Manaus. Desse modo, para a cidade alguns supervisores, administradores, engenheiros, contadores e claro, gerentes das filiais começam a desembarcar nestas paragens. O choque cultural é traumático e os amazônicos sofrem para se adaptarem ao ritmo das fábricas com suas esteiras e movimentos alucinados, desmaios, acidentes de trabalho e abandono de postos de trabalho fazem parte desta fase. Executivos holandeses, estadunidenses e japoneses transitam quase cotidianamente pelo Aeroporto Eduardo Gomes. Então, imaginem a partir de 1989 quando Manaus se torna uma potência na economia da América Latina com o pólo duas rodas e a produção eletroeletrônica.

Com este fluxo de pessoas pela metrópole não seria difícil que a propagação de qualquer vírus se tornasse uma possibilidade real. Até os anos 1990 do século XX, Manaus não ingressava no noticiário internacional ou nacional ligado as epidemias, embora destaquemos o cólera e as doenças chamadas tropicais. Atualmente o trânsito de bens e pessoas intensificou-se assim como a diversidade de nacionalidades com a Globalização da economia e a mudança na industrialização mundial.  Insumos que vem de diversos lugares do planeta e o trânsito intenso de pessoas seja a trabalho, negócios ou turismo já mostravam a propensão desta cidade a se tornar o epicentro da pandemia no Brasil. E hoje, infelizmente isso já é realidade.

As autoridades governamentais exitam em determinar o "fechamento da cidade", recebem pressão política de comerciantes e de setores reacionários sejam religiosos ou civis. A gestão da crise se torna um enorme desafio e problema para a administração da cidade e do estado. Como priorizar a questão da emergência sanitária real e iminente, cujos aparelhos de Estado não estão preparados? Fazer cumprir o isolamento numa cidade que tem em média 191,45 hab/Km2 com a falta de educação 
básica e cidadania torna isso uma ameaça real a ampliação de outros indicadores como os da violência urbana. Não fosse apenas isso, o modelo mental de nossas forcas de segurança, focadas na repressão e opressão da sociedade civil é um complicador real. Não são preparados a lidar com as grandes situações humanitárias e ainda vêem a sociedade com o "inimigo interno" sobre quem deve se projetar a desconfiança. Na China, o uso de drones e robôs, e georreferenciamento na Coréia do Sul e em Portugal e Itália com suas polícias fazendo cumprir o isolamento. Idosos, crianças, donas de casa, operários e desempregados. Realmente, seria de fato temeroso realizar o Lockdown nesta cidade.

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Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas. UFAM.

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