FOTO: PROF. MAURO BECHMAN. AUTOR: CUCUNACA, 2020. |
Por: Mauro Jeusy Vieira Bechman*
Protocolos e medidas emergenciais para reduzir o contágio do novo coronavírus, testagem em massa, sanitização, estatísticas e mais estatísticas nada mais nos parece uma nuvem sem saída.
Na prática, independente dos protocolos e campanhas publicitárias, a pandemia vem encobrindo um debate clássico e basilar na vida social, a falta de políticas públicas nos mais diversos campos. Em 2019 já não era fácil habitar na cidade e se é a este "Normal" que desejamos retornar, então há de fato algo muito errado em todos nós.
Violência urbana, microclima comprometido, déficit habitacional, avanço sobre as áreas verdes e fragmentos florestais, corrupção dos entes estatais por entes privados e ausência de política de saúde ambiental que contemplasse integralmente a dotação de infraestrutura sanitária adequada às cidades.
A mídia corporativa empresarial não pode pautar a vida. Muitos dos agravantes da pandemia recaíram exatamente sobre os antigos "gargalos" das cidades por sua falta e negligência no Planejamento urbano, regional e ambiental. A falta deste compromisso desta classe dominante regional com o povo do lugar incide na imperdoável perda de vidas humanas e algumas dotadas de uma vida científica e intelectual intensas que se esvaíram com a pandemia.
Em meio a este relativismo insano em que tudo pode ser reduzido a um "ponto de vista" pena a ciência e a verdade é a de quem grita mais alto, uma anti civilidade. Na metrópole Manaus com seus mais de 2 milhões de habitantes e cerca 90,6% dos residentes não tem acesso a rede de tratamento de esgoto, qualquer pesquisador iniciante é plenamente capaz de inferir sobre as consequências devastadoras de outras doenças e por conseguinte do coronavírus.
Ainda assim, é sempre digno de nota, a luta lúcida e valiosa dos professores que denunciam todos os dias em suas mídias alternativas, a insensibilidade para com a coletividade na ausência de uma política de saúde ambiental consistente que garanta de fato, uma condição satisfatória para que o processo ensino-aprendizagem se dê reguardando o maior tesouro da escola: a vida dos mestres, funcionários e de seus alunos neste momento tão ameaçador da vida humana no planeta com o Coronavírus e suas sequelas.
Desmontam-se hospitais, numa cidade onde todas as madrugadas filas de pessoas disputam uma "ficha" para ao menos serem ouvidas pela autoridade médica. Com ilustre geógrafo Milton Santos aprendemos que a infraestrutura espacial dos fixos mudam suas funções para dar dinâmica ao espaço habitado. Daí que um hospital ou uma casa de saúde popular pode muito bem continuar servindo aos habitantes da cidade redirecionando seu atendimento e redefinindo suas funcionalidades.
Que os protocolos, as máscaras, o álcool em gel e a banalização da pandemia, não continuem a esconder que em nossas cidades, não há em pleno século 21, redes de tratamento de águas e esgotos, hospitais suficientes, campanhas de vacinação sistemáticas para o enfrentamento desta e de outras pandemias que haverão de surgir, escolas adequadas à prática da convivência sadia da comunidade escolar, ou seja, políticas públicas que sejam permanentes e democraticamente construídas.
A saúde dos habitantes da cidade e do ambiente, depende da lucidez em lutar por políticas públicas que afirmem o compromisso com a vida e o bem estar de todos.
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* Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia e Processos Socioculturais pela Universidade Federal de Amazonas. UFAM.
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