FOTO: ESTÁDIO VIVALDO LIMA. 2008. AUTOR: CUCUNACA, 2008. |
Nesta postagem, farei um mergulho á arquitetura de minhas lembranças como torcedor de futebol e como cidadão desta Amazônia que me ensinaram a ignorar e que aprendi a amar. Peço apenas que leiam como um grito da arquibancada, para que a poronga não se apague e a floresta escureça mergulhando no pântano do esquecimento.
O COLOSSO DO NORTE - O VIVALDÃO
É domingo, na cidade dos Manaús. O rádio fala dos jogos do campeonato brasileiro, os jornais tem na sua primeira página, o convite sugestivo ao futebol. Eu, meus irmãos e meus pais vamos ao Estádio Vivaldo Lima. Os ônibus andam tão lotados que seguem suas trajetórias tombando com pessoas em cima numa espécie de surfistas urbanos e dependurados em portas e nos seus para-choques. Que sufoco!
É domingo, e escutamos as músicas de Chico da Silva, ao mesmo tempo que fazemos o almoço dos amazonenses com tambaqui na brasa e alegria que se mistura a ansiedade para a ida ao estádio.
Ao olhar de um menino de 10 anos de idade, vejo realmente um "Colosso", cercado por gente em filas quilométricas. Nos seus arredores, multidões caminham de todas as direções, com alegria e ansiedade param o tráfego e com gritos e bandeiras revelam uma paixão imortal pelo futebol.
O estádio está ficando cheio e eu pequenino vejo pintado as cores das bandeiras dos clubes do Amazonas nas arquibancadas e pergunto ao meu irmão mais velho o significado de cada combinação de cores e, ele me explica cada uma desta combinações. Mas vejo uma desproporção nas cores. Os dois lados que se opõem diametralmente, se opõem ao longo das mais extensas faixas do estádio, de um lado, as cores azul e branca e de outro as cores preta e branca. Estávamos diante de uma simbologia que superava os anos e tinha raízes fincadas na histórica rivalidade entre os times do Nacional Futebol Clube (Naça) cujas cores são o azul e o branco e o Atlético Rio Negro Clube (Galo da Praça da Saudade) nas cores preto e branco.
A medida que o público ia se acomodando, a rivalidade entre os torcedores ia se acirrando, a ponto de na torcida do galo ninguém passava com as cores que lembrasse o azul e vice-versa. O clássico Rio-Nal ganhava espaço no meu coração e na minha memória.
Frequentei o estádio nos anos 1980 e vi campanhas memoráveis do Nacional neste estádio que agora vejo desmoronar com o passar de incompetentes dirigentes de clubes de futebol.
Na campanha de 1987, no campeonato brasileiro, o Nacional vencia a todos que vinham jogar em Manaus, tínhamos uma das melhores médias de público e a cada vitória hordas de torcedores soltavam fogos pelas ruas nos arredores do estádio. As torcidas eram um show a parte. O Galo tinha a "Galo Gay" - torcida criada para compensar a ausência das mulheres do estádio e o Naça, cujos torcedores sempre foram mais fervorosos e violentos tinham a "Selva Azul" e outras que não lembro o nome direito. Mas lembro que muitos grandes clubes do sudeste e sul vinham ser derrotados pelos nossos times e a paixão de fato era muito forte. Ainda hoje quando escuto Chico da Silva, minhas lembranças voltam áquele tempo.
Não pretendo aqui, ignorar que cada momento tem seu tempo e este foi um dos momentos que me trazem saudade apesar das dificuldades de uma década de crise econômica nacional. Mas ver o palco dos nossos clubes desaparecer, me faz refletir que uma construção como o Vivaldão não merecia ter um destino como este, de desaparecer em favor de um markentig ambiental em que o turismo é mais importante que a alegria de viver dos torcedores do lugar.
Da mesma forma que, acredito que o silêncio de nossa elite social e econômica, transformaram-se num crime contra a reflexão e a construção de uma memória espacial que reafirme o futebol no Amazonas. Aliás, nossos clubes como o Rio Negro, o Nacional, São Raimundo, Sul América são quase centenários e em nada quanto á história deixam a desejar para o restante do país.
Fui tentar testemunhar a demolição do Vivaldo Lima e fomos proibidos de fazer imagens internas. Voltei frustado para casa, Eu e meu filho Mauricio, registramos poucas imagens externas dos escombros do estádio, pois não pudemos dizer adeus ao Colosso do Norte!
2 Comentários
...sempre fui contra a demolição do nosso querido Vivaldão ou Vivaldo Lima. Mais uma experiência a ser analizada sob a ótica Geográfica. Concerteza ela nos diria que uma obra dessa magnitude seria no futuro, ou seja, depois da copa, se tornaria num "elefante branco". O bom geógrafo não pode ficar "em cima do muro"e/ou aceitar uma decisão governamental calado, sem realmente mostrar para a sociedade o real motivo da demolição do nosso estádio.
ResponderExcluirInfelizmente carissimo Rildo, assim tem-se processado as coisas no Amazonas. Ainda bem que usamos a internet para estas coisas úteis. Estou encampando uma luta pelo "Encontro das àguas", espero que vc se engaje nesta causa tão nobre para nós.
ResponderExcluirSaudações Geográficas!