FOTO: RUAS DE MANAUS. AUTOR: CUCUNACA, 2017. |
Uma das coisas mais engraçadas senão trágicas que trago em minha memória juvenil,está relacionada as lembranças desse tempo.
Na Manaus dos primeiros anos da década de 1980, a violência sempre foi uma tônica presente no cotidiano das pessoas. Chegando a partir das 22h já não era possível ver gente circulando pela rua. Um aspecto sombrio nos dias de chuva e as ruas mal iluminadas -para ser gentil, davam o cenário desse tempo.
Certa noite, ocorreu uma tragédia na rua onde morava, a rua Jonathas Pedrosa no famoso bairro da Praça 14 de Janeiro. Um cidadão foi esfaqueado na calçada de fronte a vila que morava minha família. Em choque, todos na rua cercavam o cadáver e murmuravam intensamente com o fluxo cada vez maior de moradores e curiosos. Nunca gostei dessas coisas de violência e também nunca tive curiosidade de ver isso.
Na cena do crime, senhoras, adultos, homens, jovens e alguns moleques ficavam "colhendo" informações sobre a tragédia e não eram poucos os olhares assustados e as mãos na boca das mulheres horrorizadas com o acontecimento. Alguns moleques, entre eles eu, também viam e ouviam os comentários e os murmúrios da vizinhança. Até que "espiando e ouvindo" as conversas, vi um dos rapazes que tinha por volta dos 15 anos com o sugestivo apelido de "Carangueijo" com os braços trançados sobre o seu próprio tórax observando a cena.
De repente,surge um amigo da rua e ao lado de outro que atenciosamente esticava o pescoço e os ouvidos para tentar compreender o ocorrido e faz uma oportuna pergunta ao Carangueijo: - Quem morreu? Carangueijo que não perdia uma chance de tirar "graça" com a cara dos outros, respondeu: -Foi o Solha. O rapaz com cara de mais curiosidade, retruca: - Solha? Que Solha? Caranga responde: - O Solha, primo do Folha, irmão do Trolha, amigo do Bolha....Os dois moleques curiosos saem desconfiados e se perguntando quem seria o defunto e quem eram os personagens citados pelo esperto Carangueijo.
Depois o nosso amigo Carangueijo contou o fato e revelou a "brincadeira" que gerou uma confusão para os curiosos moleques. Rimos muito e até hoje guardo nas lembranças juvenis esse causo, cômico senão fosse tão trágico.
Nesta tarde, no julgamento do ex-presidente Lula pelo TRF4 (Tribunal Regional Federal da 4a Região), fique pensando nos tempos de juventude e claro, lembrei do "Carangueijo".
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